A retomada da indústria naval brasileira atracou pra valer em Pernambuco. Dos 49 navios previstos para serem construídos nos próximos anos, nada menos que 30 - portanto, quase 60% - sairão daqui. Destes, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) será responsável por 22 petroleiros. O restante integra o pacote de serviços de um novo estaleiro, o Promar, que construirá, entre 2012 e 2014, oito navios para transportar gás, encomendados pela Transpetro, empresa subsidiária da Petrobras. E tudo indica que seja somente o começo, pois ainda há pelo menos outros três estaleiros na fila para se instalar nos 600 hectares reservados pelo Complexo de Suape para o polo naval. O Promar ficará em uma área de 80 hectares, próximo ao EAS.
Portanto, foi com justificado entusiasmo que a Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), através de seu presidente em exercício, Ricardo Essinger, saudou a chegada do Promar, um investimento de R$ 300 milhões que vai gerar 1,5 mil empregos na fase de construção, e quantidade semelhante na operação, daqui a um ano. Segundo Essinger, o impacto do empreendimento será sentido em toda a economia do Estado, com a geração de postos de trabalho, a melhoria da mão de obra e o aquecimento do setor metal-mecânico possibilitando desdobramentos positivos em outros setores. Na mesma linha, o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado de Pernambuco (Simmepe) acredita que a modernização apresentada pelos fornecedores do Atlântico Sul deve ganhar novo fôlego, graças ao novo estaleiro.
Há poucos dias, outra boa notícia deve ter deixado ainda mais otimistas os empresários. Foi anunciada a concessão de montantes bilionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a nossa nascente indústria naval: quase R$ 4 bilhões, oriundos do Fundo da Marinha Mercante (FMM). Desse total, R$ 2,6 bilhões são para a Transpetro adquirir sete embarcações feitas em Pernambuco. Também foi aprovada a quantia de R$ 1,3 bilhão para o Atlântico Sul construir os navios. A previsão é de que o pacote do BNDES venha a criar até 4 mil empregos.
O aquecimento industrial traz oportunidades desafiadoras para os pernambucanos. Mesmo que se trate de um “problema bom”, como definiu o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho, a necessidade de trabalhadores qualificados para funções técnicas e administrativas específicas da indústria naval continua sendo um problema. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e as nossas universidades correm para atender a tempo a demanda, que atingirá, com os dois estaleiros em plena atividade, o número de 6,5 mil pessoas. Se os outros três estaleiros que foram anunciados e se encontram em fase de elaboração do projeto executivo se instalarem, mais 9,5 mil vagas serão abertas. A Universidade de Pernambuco (UPE) forma este ano sua segunda turma na especialização em engenharia naval, enquanto a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) prepara o seu curso de graduação na área.
Com todo o esforço que vem sendo feito, o Atlântico Sul e os futuros empreendimentos, como a refinaria, precisarão manter cursos próprios de aperfeiçoamento para as turmas formadas pelos cursos profissionalizantes disponíveis no Estado. Há uma clara defasagem que deveria ser considerada como uma corrida dentro de outra: temos que formar melhor os quadros da emergente indústria naval, para sermos capazes de dar conta dos empregos que surgirão - sob pena, como já acontece, de vê-los ocupados por gente de outros estados.
A confirmação do segundo estaleiro em Suape, além da expectativa de que atrás do Promar venham mais, propicia o reconhecimento de um polo naval em franco desenvolvimento. A concentração industrial facilita o fornecimento de equipamentos e serviços, além de induzir o crescimento de um polo de conhecimento ao redor. É exatamente nesta parte - de que somos tradicionalmente tão zelosos em diversas áreas, do setor de serviços à informática - que Pernambuco não pode descuidar, num importante momento de reestruturação da nossa economia.
Suape naval
30/05/2011