Petroquímica ganha forma em Suape

As primeiras máquinas da Companhia Petroquímica de Pernambuco (PetroquímicaSuape) começam a rodar este mês. Pertencem à unidade onde serão fabricados filamentos têxteis de poliéster, que é uma das três plantas industriais que formam a megaestrutura da empresa no Complexo Industrial e Portuário de Suape. Apesar de não representarem o início, de fato, das operações, os equipamentos ligados para treinamento de parte da mão de obra mostram que o projeto anunciado em 2006 – e que enfrentou percalços, com mudanças nos sócios e no perfil do empreendimento – é hoje uma realidade. O investimento total é de R$ 4 bilhões e serão gerados 1.500 empregos diretos. Superada a fase de implantação, vem agora o seu maior desafio: assumir a vocação de investimento estruturador, com capacidade para promover mudanças profundas na economia de Pernambuco, assim como fez o Estaleiro Atlântico Sul e como promete fazer a Refinaria Abreu e Lima.

A PetroquímicaSuape é um projeto complexo. São três fábricas que vão produzir seis produtos complementares (ver arte abaixo) e com grande demanda nos mercados interno e externo. Vai se juntar com a unidade do grupo italiano Mossi & Ghisolfi, que produz resina PET, e formar um polo petroquímico em Pernambuco. Essa cadeia produtiva é caracterizada por fomentar grandes saltos econômicos onde é estruturada. Basta ver o exemplo da cidade baiana de Camaçari. Em 1978, começou a sair do papel o polo que hoje produz mais de 11,5 milhões de toneladas por ano de produtos químicos e petroquímicos e fatura anualmente em torno de US$ 15 bilhões, além de empregar mais de 15 mil pessoas. Se transformou na principal área de crescimento econômico da Bahia.

Enquanto em Camaçari a produção petroquímica é extremamente diversificada, abrangendo desde borrachas sintéticas a produtos de limpeza, em Pernambuco o foco será o tradicional setor têxtil. Na teoria, a PetroquímicaSuape vai garantir o abastecimento de matéria-prima necessária para as indústrias de tecidos produzirem artigos a base de poliéster e brigarem com os produtos asiáticos que são importados em massa e têm desbancado as confecções feitas com algodão e produzidas no Estado. Só que para isso ocorrer na prática, será preciso uma modernização nas tecelagens locais, que precisam estar preparadas para trabalhar com um novo insumo.

Isso pode ser contornado a partir do potencial de atração de novas indústrias que o polo petroquímico terá. Dois investimentos recentes anunciados para o Estado mostram esse poder de fogo: a fábrica de R$ 57 milhões de cintos de segurança e de cordas de navio que o grupo Unimetal vai instalar em Timbaúba, na Mata Norte, e a unidade da Neotextil, fornecedora de tecidos esportivos para marcas como Nike, Puma e Oakley, que será erguida em Paulista, no Grande Recife, e cujos investimentos podem chegar a R$ 150 milhões. Ambas têm na PetroquímicaSuape a principal fonte de matéria-prima. Há ainda as chamadas indústrias de preformas, que transformam a resina PET (outro produto que será fabricado pela companhia) em embalagens plásticas ainda sem desenho definido. Só o início de operação da Mossi & Ghisolfi atraiu Brasalpla, Cristal Pet, Lorempet e Pet Nordeste. Juntas, representaram aportes financeiros da ordem de R$ 290 milhões. E há fôlego para mais.

Outro efeito do polo é a mudança na balança comercial do Estado. Até 2007, quando a fábrica da Mossi & Ghisolfi começou a produzir, o açúcar reinava absoluto nas exportações. Hoje, a resina PET tem lugar de destaque, chegando a fazer sombra ao “ouro branco”. Nas importações, o ácido tereftálico purificado (PTA), matéria-prima para produção do PET, é líder. Se por um lado a PetroquímicaSuape vai abastecer o mercado interno de PTA, o paraxileno (PX), insumo fundamental para fabricação desse artigo, apesar de fabricado pela Braskem em Camaçari, deverá ter quantidades expressivas trazidas de fora do País, conforme adianta o secretário-geral da PetroquímicaSuape, Marcos Herszkowicz. EUA, Oriente Médio e Ásia são grandes produtores.

“O mapa do comércio exterior de Pernambuco vai sofrer com alterações ainda mais significativas quando a PetroquímicaSuape começar a funcionar. E com a implantação de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), são grandes as chances de empresas que atuam no mercado externo com produtos a base de artigos petroquímicos virem se instalar no Estado, aumentando ainda mais as exportações”, resume o professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Écio Farias.

Apesar de consolidada, a PetroquímicaSuape ainda está aberta a receber um novo sócio. Aliás, as mudanças na sua composição acionária motivaram as especulações sobre a não consolidação do projeto. No início, em 2006, eram Petroquisa (braço petroquímico da Petrobras) e a Companhia Integrada Têxtil do Nordeste (Citene). Em setembro de 2008, a Petroquisa assumiu 100% da empresa, ampliou o número de produtos que seriam fabricados e partiu em busca de um novo sócio com caixa reforçado. Os indianos do grupo Reliance foram sondados, mas a crise econômica esfriou as negociações. “O planejamento ainda é de contar com um parceiro privado e há um entendimento entre as empresas onde a Reliance tem preferência. Mas nada foi definido nesse sentido”, finaliza Herszkowicz.