Jovens engenheiros apostaram no porto, numa atitude visionária, como cenário de crescimento
No dia 30 de dezembro de 1979, o Diario de Pernambuco publicava uma foto bastante sintonizada com o futuro. Quase visionária. A Turma Suape, composta por jovens formandos em engenharia civil pela Universidade Católica de Pernambuco, desembarcava nas areias de uma praia no Litoral Sul do estado. Naquela época, o nome de batismo da turma não passava de uma promessa, mas o sonho virou realidade. Há uma semana, no dia 20 de novembro, alguns daqueles jovens, muitos já de cabelos grisalhos, retornaram ao local. O que puderam conferir, 30 anos depois, foi um dos maiores complexos industriais portuários do país em plena atividade e expansão.
Três décadas foram suficientes para transformar areia, pedra, mar, num gigantesco condomínio que reúne mais de 70 empresas em torno de um porto. É lá onde estão sendo erguidos o Estaleiro Atlântico, símbolo da retomada da indústria naval brasileira após décadas de estagnação, a Refinaria Abreu e Lima, a primeira do país desde 1980, e um complexo petroquímico. "Suape é a redenção de Pernambuco. Foi uma emoção enorme voltar àquele local e poder constatar que o sonho coletivo se concretizou", diz Joseline Carneiro Leão, 51, uma das organizadoras da recente excursão a Suape. Na nova foto ela aparece ao centro, de blusa branca e óculos escuros.
Foram necessários nove governos, de Eraldo Gueiros (1971-1975) a Eduardo Campos (2007-2010), para o sonho chamado Suape virar realidade. "Numa antevisão de futuro apostamos no empreendimento que, ao nosso ver, por tudo o que nos fizeram acreditar alguns de nossos professores, seria a redenção econômica de Pernambuco", conta Joseline, referindo-se ao processo de escolha do nome da turma. Detalhe: o patrono foi o então governador Marco Maciel (1979-1982), que criou a empresa Suape e iniciou a construção propriamente dita do complexo, incluindo a ferrovia, o primeiro cais de atracação e duas barragens para garantir o abastecimento de água.
Joseline hoje é auditora fiscal do Ministério do Trabalho, mas pelo menos dois de seus colegas que continuam exercendo a engenharia mantêm algum tipo ligação com Suape. Gustavo Barbosa, 53, trabalha na Pernambuco Construtora e participou da construção da M&G Polímeros, indústria de resina PET do grupo italiano Mossi & Ghisolfi inaugurada em 2007. Hoje, vive o dia a dia da implantação do estaleiro. "Naquele tempo Suape era só uma promessa. Estava apenas começando a construção do molhe, mas a expectativa era grande. Agora vemos que é irreversível", depõe. Na foto, Gustavo é o terceiro da direita para a esquerda.
Tudo indica que a esperança por dias melhores deu força à Turma Suape, apesar da desvalorização sofrida pela categoria nos anos 1980. Joel Albuquerque, 55, afirma que nunca conseguiu largar a profissão. "Naquela época tudo era uma interrogação. Da mesma forma como não sabíamos se íamos dar certo como engenheiros, também não sabíamos se Suape ia dar certo ou não", relata. Ainda bem que tudo deu certo. Joel, que na foto aparece de camisa azul e bigode (o sexto da esquerda para a direita), trabalha na Norconsult, empresa de consultoria que presta serviços a Suape fazendo supervisão de obras de infraestrutura.
Da redação - Diario de Pernambuco