Pleno emprego para costureiras

Paula Correia Silva, 28 anos, casada, com dois filhos, já fez de tudo na vida. Foi empregada doméstica, vendedora de loja, frentista de posto e funcionária de padaria. Há quatro anos começou nas fábricas de costura. No começo não sabia nada sobre o ofício. “Foi difícil aprender. Mas hoje eu trabalho em qualquer fábrica”, diz orgulhosa. Ela informa que os melhores salários são pagos pelas empresas do vestuário. Ela recebe cerca de R$ 500 por mês. Não soube dizer o valor exato já com os descontos. Seu marido trabalha em uma lavanderia de jeans e recebe R$ 700. Antes ele era moto-taxista e ganhava pouco mais da metade. Costureiras como Paula são disputadas pelas empresas de confecções. Ninguém que sabe costurar fica sem emprego no polo do Agreste.

Andando pelas ruas dos municípios, é fácil encontrar placas nas fachadas das casas com os dizeres: “Precisa-se de costureira. Paga-se bem”. As vagas atraem os moradoras dos municípios e de cidades vizinhas, onde arrumar emprego é difícil. Aline de Andrade, 22 anos, sai todo dia da região rural de Santa Maria do Cambucá para trabalhar em Vertentes (localizada a 156 km do Recife). Dois municípios pequenos encravados no Agreste de Pernambuco. São 22 quilômetros diários de lotação que custam R$ 40 por quinzena. O salário semanal da costureira é de R$ 80. Ela trabalha em cima de um banco desconfortável, em uma sala quente, com pouca iluminação, das 7 às 17h. Todo o esforço é para não depender do salário do marido e da aposentadoria da mãe. O sonho dela era ser vendedora de loja, mas não deu certo. Costurando há apenas dois meses, levou uma semana para aprender a dominar a máquina.

No polo de confecções costurar não é só coisa de mulher. Em algumas fábricas só se vê homem cortando tecido, costurando a peça, pregando botão. A necessidade venceu o preconceito há muito tempo. O setor responsável pela pujança econômica da região desconhece gênero. Iron Bezerra, 28 anos, trabalha como costureiro há 10 anos. “Isso de homem não poder costurar não existe aqui. Gosto muito do que faço”.

Mesmo com quase toda a mão de obra disponível voltada para a confecção, muitas empresas têm dificuldades de encontrar profissionais qualificados. Na Michelle Moda Íntima, fábrica que produz 110 mil peças por mês em Santa Cruz do Capibaribe, tem vagas abertas há mais de cinco anos. O proprietário da fábrica, Luiz Carlos Bezerra, diz que pretende aumentar a produção para 150 mil peças por mês, mas não consegue somente por causa da falta de mão de obra. Ele precisa de mais 15 funcionários. Hoje o quadro da empresa já tem 80. “Já treinei cinco pessoas do setor de serviços gerais. Eles viraram costureiros. Mas não foi o bastante. Preciso de mais gente”, informa. Segundo o prefeito de Vertentes, Romero Leal, só fica desempregado no polo de confecções quem não tem coragem de trabalhar.