Custódia - Cerca de 1,5 mil homens trabalham no lote 11 do projeto de transposição de águas do Rio São Francisco, entre os municípios de Sertânia e Custódia. Gente como Leonildo Lourenço da Silva, 27 anos, natural de Limoeiro, Mata Norte de Pernambuco. Ele está na obra há três meses e, como pedreiro, tem a missão de concretar o fundo desse trecho do Eixo Leste junto com seus colegas. Sua rotina no canteiro de obras começa às 7h e vai até as 16h30, de domingo a domingo. Mora em Custódia, mas toma café da manhã e almoça no trabalho e vê, aos poucos, uma parte do megaprojeto, promessa de campanha do presidente Lula, sair do papel.
"Isso aqui é uma bênção mandada por Deus. Água é fonte de vida", orgulha-se Leonildo, que deixou a esposa em Limoeiro para ganhar a vida no Sertão. Mesmo possuindo apenas o ensino fundamental, o operário acumula experiência em outras obras e acredita que não ficará desempregado quando a obra acabar. Ele trabalhou, recentemente, na construção de um teatro em Guarulhos (SP), erguido por uma das empresas integrantes do consórcio responsável pelo lote 11 do projeto de transposição, a OAS. Além dessa construtora, fazem parte do grupo Galvão Engenharia, Construtora Barbosa Mello e Coesa. Para cuidar da primeira fase das obras civis, montagem, testes, comissionamento de equipamentos mecânicos e elétricos, o consórcio está recebendo R$ 250,92 milhões. De acordo com informações do último balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o lote 11 está com 33,8% de execução.
Ao todo, a transposição já emprega oito mil pessoas trabalhando em três turnos. Segundo o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, serão dez mil trabalhadores até o fim do ano. O projeto é composto por dois grandes canais, Eixo Norte e Eixo Leste, que vão percorrer Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará ao longo de mais de 700 quilômetros. O presidente Lula quer terminar o Eixo Leste, com seus 220 quilômetros, até 2010. Vai do Reservatório de Itaparica até próximo ao município de Monteiro (PB). O Eixo Norte parte de Cabrobó, com pouco mais de 500 quilômetros, e vai até o Ceará. Esse, com previsão de ser concluído em 2013, o presidente Lula quer deixar o projeto em ponto irreversível quando sair do governo. A obra é faraônica. Inicialmente orçada em R$ 4,5 bilhões, agora está estimada em R$ 5 bilhões, sendo que cerca de R$ 2 bilhões já teriam sido gastos. No PAC, incluindo obras complementares, o projeto foi contemplado com R$ 6,6 bilhões.
Uma das moedas de troca do projeto de transposição foi a revitalização do Rio São Francisco, que deverá receber investimentos bem mais modestos - cerca de R$ 1,5 bilhão. Ao mesmo tempo em que tenta calar seus opositores, que insistem em dizer que a obra não saiu do papel, o presidente Lula procura acalmar os ânimos dos ambientalistas e críticos do projeto, que sustentam que a obra vai piorar o estado clínico de um doente que já agoniza. Ontem, em Minas Gerais e naBahia, Lula quis mostrar algumas ações que visam à recuperação do Velho Chico, como saneamento básico e o replantio de matas ciliares. O slogan da viagem é "Projeto São Francisco. Um rio melhor, um rio para todos". O governo federal garante que o projeto de integração do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional irá "matar a sede" de 12 milhões de pessoas que hoje vivem no semiárido. Os críticos, por sua vez, argumentam que a água irá servir apenas ao agronegócio.
Da redação - Diario de Pernambuco