Suape, um ABC diferente

Há semelhanças entre a região de Suape e o Grande ABC, mas também há diferenças. O ABC é eminentemente industrial. O Território Estratégico Ampliado de Suape, além de indústrias, abriga um forte setor de comércio e serviços, incluindo o diferencial da atividade turística. Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca possuem praias conhecidas, como Gaibu, Muro Alto e Porto de Galinhas, além de uma razoável infraestrutura hoteleira e de gastronomia.

Alguns economistas entendem que o turismo deve apoiar a expansão industrial, oferecendo moradia, serviços de hospedagem e alimentação. "Estão desprezando essa possibilidade", opina Alexandre Rands. A indústria, por sua vez, deve respeitar o meio ambiente para que não corramos o risco de afugentar turistas com acidentes como o vazamento de óleo que atingiu o litoral do Rio no início do mês. É bom lembrar que, a partir de 2012, Suape receberá muitos petroleiros para abastecer a Refinaria Abreu e Lima.

Luciano Pinto, diretor executivo de Apoio à Gestão Regional e Metropolitana daAgência Condepe/Fidem, lembra que o Recife e Jaboatão dos Guararapes sempre tiveram uma vocação natural para o setor terciário. Jaboatão, por exemplo, é o principal parque logístico do estado. Sem falar na tradicional atividade sucroalcooleira da Mata Sul. "As demais atividades não acabarão por causa de Suape. Pelo contrário. O setor de serviços deve se expandir mais para atender às novas demandas".

Em São Paulo, o grosso do comércio e dos serviços estava na capital, grande centro consumidor. Em relação ao polo pernambucano, o centro não é o Recife ou apenas o Nordeste. "As indústrias de Suape não estão voltadas para toda a região, o Brasil e, em alguns casos, o exterior", pontua Rands. (M.B.)
 
Preocupação com o social e o ambiente

Suape tem outra particularidade em relação a outros polos industriais - sua consolidação ocorre numa época de grandes preocupações com os indicadores socioambientais. Antes, não havia as exigências do licenciamento ambiental nem tanto planejamento urbano. As empresas simplesmente se instalavam e traziam todas as mazelas a reboque. Em Macaé, a questão urbana há muito fugiu do controle porque a população aumentou de 20 mil para 200 mil habitantes em poucas décadas.

Apesar do planejamento, a expansão dos centros urbanos dos municípios do entorno de Suape esbarra numa realidade: as prefeituras são carentes e não possuem estrutura administrativa para gerir esse crescimento. Por isso, o plano coordenado pela Condepe/Fidem traz em seu guarda-chuva o Programa Especial de Controle Urbano e Ambiental. Mas ainda falta o BNDES aportar os R$ 11 milhões prometidos.

"É um recurso diminuto em relação a outros investimentos, porém essencial para capacitar as prefeituras e construir um sistema de informações cartográficas georreferenciadas", defende a gestora de Estudos Metropolitanos da Condepe/Fidem, Antonia Santamaria. A pressão é grande, especialmente neste momento em que muitos municípios estão refazendo seus planos diretores para poder receber empreendimentos. Sobretudo Moreno e Escada, inseridos no projeto Suape Global, que visa transformar a região num polo provedor de bens e serviços para as áreas de petróleo, gás, naval e offshore - as novas vocações econômicas de Pernambuco.

Outra questão é cuidar da empregabilidade dos cidadãos. Ipojuca, o terceiro maior PIB do estado e o maior per capita, tem um nível de escolaridade igual ao de um município como Araçoiaba. Para formar mão de obra para o Estaleiro Atlântico Sul, por exemplo, foi necessário promover um reforço escolar de português, matemática e raciocínio lógico para 5 mil pessoas. Tanto o Suape Global quanto o reforço são tentativas de transformar PIB em renda, conforme explicou anteriormente o economista Jorge Jatobá.

Para o diretor de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas da Agência Condepe/Fidem, Rodolfo Guimarães, só o crescimento do PIB não basta. Tem que haver desenvolvimento social e distribuição de renda, afinal, o PIB per capita é uma ficção. "Não queremos que essa região aumente sua participação no PIB fazendo crescer também as externalidades", (M.B.)
Saiba mais

Camaçari (BA)

O polo industrial começou a ser implantado em 1978, tendo a Copene (atual Braskem) como carro-chefe do segundo polo petroquímico do país (o primeiro foi Capuava-SP). O polo abriga ainda a única montadora de veículos do Norte/Nordeste - a Ford - e empresas como Bridgestone Firestone, Caraíba Metais, Continental Pneus, Discobrás, Bahia Pulp, Monsanto, Columbian Chemicals, Peroxi Bahia, entre outras.

Ao longo de sua história, o polo de Camaçari recebeu investimentos superiores a US$ 11 bilhões. Gera cerca 35 mil empregos, sendo 15 mil diretos e 20 mil indiretos. O município possui o maior PIB industrial do Nordeste e o segundo maior da Bahia. Apesar disso, a distribuição de renda nunca foi uma realidade. Camaçari tem um IDH de 0,734, considerado médio.

Macaé (RJ)

Nos anos 1970, Macaé era apenas uma vila de pescadores quando a Petrobras decidiu instalar ali sua base para explorar petróleo na Bacia de Campos. Hoje são 45 plataformas e 30 mil profissionais nas unidades marítimas para umaprodução que em 2009 atingiu 1.750 barris diários de óleo.

Em função do desenvolvimento dessa indústria, especialmente a partir de 1997 (abertura do mercado), a economia da cidade cresceu nada mais, nada menos que 600% em dez anos. Seu PIB per capita, de R$ 36 mil, é 200% maior do que a média nacional. Seu IDH, porém, não evoluiu na mesma proporção - é de 0,79. Reflexo, sobretudo, da imigração de pessoas em busca de trabalho. Como nem todos encontram, acabam ajudando a aumentar o tamanho e a quantidade de favelas.