De tempos em tempos, o Brasil é governado como um imenso canteiro de obras e a idéia de progresso passa a girar em torno de um objetivo: a modernização da infra-estrutura. Foi assim, em 1926, quando Washington Luís chegou ao poder com o mantra "governar é abrir estradas" e deu início à implantação da malha rodoviária nacional. Três décadas depois, Juscelino Kubitschek resumiu seu Plano de Metas no binômio "energia e transportes" e plantou as bases da industrialização, com a construção de grandes hidrelétricas, como Furnas. Durante a ditadura militar, os símbolos de progresso eram obras do porte de Itaipu, que projetavam a idéia de Brasil Potência. Hoje, o País vive de novo um desses momentos. Com o maior pacote de obras da história - o Programa de Aceleração do Crescimento prevê gastos de R$ 636 bilhões até 2010 -, os próximos anos poderão ficar marcados como a era de ouro da engenharia. A diferença é que, ao contrário do passado, o País pode implantar projetos de grande vulto, em várias regiões, sem causar estragos nas contas públicas - e, portanto, sem risco de gerar inflação. "Temos gordura para queimar e vamos adotar uma agressiva política anticíclica para enfrentar a crise", garante o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
De JK a Itaipu: em outros períodos, o Brasil também ficou marcado por grandes obras. Na era JK (na foto, na construção da Belém-Brasília), o binômio energia e transportes foi a marca do Plano de Metas. Com os militares, a usina de Itaipu projetou a idéia de Brasil-Potência
Um PAC maior: no balanço mais recente do PAC, o presidente Lula anunciou que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento, que cobrem todos os setores da infraestrutura, atingirão R$ 636 bilhões até 2010.
Concebido para tempos normais, o PAC está atingindo sua velocidade de cruzeiro no momento ideal. Com o mundo vivendo uma das maiores catástrofes financeiras desde o crash de 1929, o melhor remédio contra a crise é a política fiscal expansionista. Nos Estados Unidos, o presidente eleito Barack Obama divulgou um pacote de US$ 775 bilhões, que seria o maior programa de obras públicas dos últimos 50 anos. O que se pretende é salvar a economia com um novo New Deal - nos anos 30, Franklin Roosevelt tirou os Estados Unidos da recessão com grandes obras rodoviárias e ferroviárias. Hoje, assim como no passado, estão sendo resgatadas as idéias do economista inglês John Maynard Keynes, que pregava aumento do gasto público no momento em que o consumo privado se retraía. Eis aí a essência de uma política econômica anticíclica. A diferença, também favorável ao Brasil na comparação com outros países, é que, aqui, os projetos não serão pontes "do nada ao lugar nenhum", mas sim obras que estarão desbravando fronteiras de desenvolvimento. "No Brasil, infra-estrutura ainda é um setor com alta taxa de retorno", diz o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que pretende liberar mais de R$ 100 bilhões em 2009.
Para preparar esta edição focada nos megaprojetos nacionais, DINHEIRO visitou, in loco, várias obras, onde o efeito multiplicador salta aos olhos. Em Rondônia, as usinas do Madeira não só estão permitindo um novo aproveitamento das águas da Amazônia como também gerando progresso para a população local. Tocantins, favorecido pela ferrovia Norte- Sul, já é também uma promissora fronteira agrícola. Suape, em Pernambuco, está se transformando num dos principais corredores logísticos do País. E mesmo no Estado mais rico do País, São Paulo, o Rodoanel deverá gerar enormes ganhos de produtividade para a indústria exportadora. Outro aspecto crucial é que as obras estão empregando dezenas de milhares de pessoas. A renda gerada nesse imenso canteiro de obras que é hoje o Brasil será fundamental para garantir a continuidade do crescimento em 2009. Confira, nas próximas páginas, como elas já estão mudando a vida do País.
A era dos megaprojetos
18/07/2011