Suape sobre trilhos

Máquinas, poeira e muito barulho de bate-estaca fazem de Pernambuco um canteiro de obras, principalmente no Complexo Industrial Portuário de Suape. Os atores principais são os trabalhadores, cuja luta muitas vezes começa antes do amanhecer, para chegar a tempo no local de trabalho. Hoje e amanhã, a série “Suape sobre Trilhos” mostrará a atual oferta de transporte para quem trabalha no porto, bem como os impactos e projetos de melhoria para o trajeto.

Para os próximos anos, a previsão do Governo do Estado é de que mais de 200 mil empregos diretos e indiretos devem ser gerados com os empreendimentos já instalados e outros em implantação em Pernambuco. A área do Porto de Suape abriga, hoje, os grandes projetos, como a Refinaria Abreu e Lima e o Estaleiro Atlântico Sul, e, conseqüentemente, absorve também o maior número de funcionários. Mas a oferta de transporte público não acompanhou o rápido desenvolvimento industrial na região. Tal descompasso gerou um dos maiores gargalos: o deslocamento dos trabalhadores que vivem em cidades distantes, como Olinda, Paulista, Curado, Abreu e Lima e Camaragibe.

Há dois anos, o prestador de serviços de manutenção para uma multinacional instalada em Suape Juciê Ramos do Nascimento começava a jornada bem cedo. O sol nem raiava e Nascimento já estava acordado para iniciar mais um dia. “Para chegar às 8h no trabalho, tinha que me levantar às 4h30 e pegar seis conduções. À noite, chegava em casa muito cansado e isso era estressante demais”, lembrou o trabalhador, que mora em Abreu e Lima.

O trajeto era longo porque não há um ônibus ou metrô que faça o transporte direto. Então, era necessário pegar um ônibus na integração em Abreu e Lima, seguindo para outro na Macaxeira e depois Barro. O percurso ainda incluía um trem no Curado, ligando ao Centro do Cabo, onde pegava o último ônibus para Suape. Totalizando seis conduções. A outra opção era pegar o ônibus Igarassu/Sítio Histórico para o Centro do Recife. Da capital, pegaria outro ônibus para o Cabo e outro para Suape. Entretanto, essa opção lhe custava R$ 14,2 por dia, ou seja, no fim do mês teria que desembolsar R$ 284, tornando-se inviável.

Hoje, a empresa lhe cede um carro para chegar mais rápido ao trabalho. Mas, mesmo assim, no início do próximo ano, Nascimento pretende se mudar com a família para um lugar mais perto do Cabo de Santo Agostinho. “Não há condições de continuar morando em Abreu e Lima. A área do Cabo é muito mais acessível para chegar ao trabalho”, justificou Nascimento.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Construção Pesada de Pernambuco, Aldo Amaral, muitos trabalhadores reclamam das condições de transporte. “Agora, o maior problema é quanto a demora para se chegar ao trabalho. Eles gastam cerca de quatro horas no deslocamento entre ida e volta”.