Estado na contramão da produção de leite

Cadeia // Produtores pernambucanos deverão apostar na qualidade e na organização da categoria


Maior produtor de leite do Nordeste, Pernambuco atraiu nos últimos anos vários projetos relacionados à indústria de laticínios que vão demandar um fornecimento cada vez maior dos produtores locais. O estado neste ano segue na contramão do resto do país, onde a produção de leite caiu 0,62% no primeiro trimestre, com queda de 6,5% de captação entre janeiro e junho - a primeira desde 1997. Para atender à cadeia sem ser engolido pelo poder de barganha das grandes indústrias, o produtor de leite pernambucano deverá apostar na qualidade e na organização da categoria.

"O produtor vai ser procurado pela indústria. Os maiores e mais organizados terão mais vantagem na hora de negociar, mas seria interessante se houvesse pelo menos duas ou três cooperativas fortes para garantir preços melhores", avalia o presidente da Comissão Nacional de Pecuária e Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CAN), Rodrigo Alvim. Ele lembra que o fornecimento de leite através de cooperativas já foi cerca de 60% do total no Brasil e hoje não passa dos 40%; isolamento que enfraqueceu os pecuaristas nas negociações com as indústrias.

Alvim demonstra preocupação com o processo de fusões industriais e varejistas, como a recente união da Sadia com a Perdigão, e o monopólio cada vez maior das grandes redes de hipermercados, que diminuem o poder de negociação dos fornecedores.

Especificamente em Pernambuco, a instalação de empresas como a Bomgosto, a Batavo e a Nestlé acendem um alerta também para a necessidade de investir na melhoria da qualidade do leite e em logística e transporte.

Dono de uma fazenda em Buíque, o pecuarista Manoel Cavalcanti fornece 100% da produção para a fábrica da Betânia, no Ceará. Com a ordenha totalmente mecanizada e processos com alta especialização tecnológica, ele se ressente de a alta qualidade do seu produto não ser valorizada na hora da venda e se preocupa com o futuro da produção.

"O meu leite tem alto valor agregado, mas eu não ganhonada a mais por isso. Com a chegada dessas empresas e o cenário mundial apresentado, me preocupo com a situação", diz. A produção de Cavalcanti é de mil litros por dia, de um total de 80 mil litros/dia comprados pela fábrica na região.

Para o economista e diretor da DMA Agropecuária, Alexandre Rands, o produtor está no caminho certo. "As empresas vão cada vez mais se preocupar em comprar de quem garante a qualidade. Para garantir o preço, vai ser necessária também uma certa articulação na coleta do produtos dos vários fornecedores, inclusive estradas. O processo tem que ser mais eficiente, para diminuir os custos", considera Rands, destacando que neste processo, apenas os médios e grandes produtores devem se manter no mercado. O debate aconteceu dentro da programação da 17ª Agrinordeste, que vai até amanhã, no Centro de Convenções.