Mulheres costuram sua dignidade

Projeto visa a dar uma alternativa de ocupação e renda para um grupo de 30 mulheres, incentivando a moda made in Quipapá

 


Elas já tiveram noções de cidadania e ética. Agora, aprendem história da moda - da Idade da Pedra, quando os humanos começaram a se cobrir com peles de animais para se proteger do frio, às últimas tendências. Mais à frente, vão aprender corte, modelagem e design e, claro, costura. Vão aprender também como comercializar as peças produzidas. Essas são as mulheres costureiras de Quipapá, na Mata Sul, a 171 quilômetros do Recife. As aulas fazem parte do projeto Costurando minha dignidade, uma iniciativa da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico e Prefeitura Municipal, em parceria com o Sistema S.

 

Serão nove meses de treinamento, envolvendo 30 mulheres. Gente simples, a maioria donas de casa, algumas semianalfabetas. Outras trabalhavam nas plantações de cana, quando a Usina Água Branca ainda funcionava. A fábrica fechou em 1995, deixando cinco mil pessoas sem ocupação. Numa cidade pobre, que hoje sobrevive basicamente da agricultura e do serviço público, nenhuma chance pode ser desperdiçada. Aprender ou aperfeiçoar um ofício pode significar uma alternativa de ocupação e renda. Esperança de dias melhores. Não à toa, a reportagem do Diario encontrou todas atentas, assistindo a aula de olhos vidrados no quadro e na professora.

 

"Esse projeto está revolucionando o município. Estudamos hoje para colher os frutos amanhã. Com fé e força de vontade, vamos poder andar com as nossas próprias pernas", afirma a professora e presidente da Associação das Costureiras de Quipapá, Lucinéa Melo de Lima. A semente foi plantada há dois anos, durante um curso de corte e costura promovido pela Agência do Trabalho. Das 25 participantes, 12 decidiram fundar a associação. O Sebrae elaborou o plano de negócios e mais parceiros foram surgindo.

 

O secretário de desenvolvimento econômico de Quipapá, Pedro Luiz Bezerra, diz que a prefeitura acreditou na ideia desde o início. Cedeu o local onde funciona a associação e arca com as despesas de água e energia elétrica. "É nossa política apoiar as entidades representativas do município, pois criam um ambiente favorável para que os cidadãos alcancem sua autonomia financeira. É aquela história: não basta dar o peixe, tem que ensinar a pescar", filosofa.

 

No caso das costureiras de Quipapá, a questão vai além da autonomia financeira. Como a base econômica do município é a agricultura, especialmente cana-de-açúcar, chefes de família e filhos mais velhos costumam migrar para estados vizinhos e até mais distantes, como São Paulo e Mato Grosso, em busca de oportunidades na época da entressafra. Muitas famílias ficam desagregadas nesse período.

 

"Tenho um filho em Ribeirão Preto (SP) e outro em Serra Grande (PB), porque lá onde eu moro não tem trabalho para ninguém. Os homens saem e as mulheres ficam sem ter o que fazer", depõe Maria Aparecida dos Santos, 46 anos, moradora do distrito Água Branca. Quando a usina operava, Cida preparava a terra para o plantio da cana. Atualmente, para complementar a renda que vem do Bolsa Família, ela costura eventualmente para a família e vizinhos. "Agora, com esse curso, estou tendo a oportunidade de me aperfeiçoar e tirar uma renda a mais".