A pernambucana Aqualíder vai realizar amanhã a 1ª despesca do País e trará do alto-mar 3 toneladas da espécie beijupirá
Amanhã, Pernambuco entra para a história da criação de peixes no Brasil. A Aqualíder, empresa genuinamente pernambucana, realiza a primeira despesca de animais criados em alto-mar. Três toneladas de pescado da espécie beijupirá serão retiradas de quatro tanques-rede, que hoje estão localizados a 11 quilômetros da costa da praia de Boa Viagem. Até o final do ano, serão 40 toneladas. O projeto, que levou cinco anos para virar realidade, é a concretização de um plano nacional que tem, no mínimo, 15 anos: desenvolver no País o cultivo de peixes em fazendas marinhas e continentais (situadas em lagos e reservatórios) e solucionar o problema do déficit de estoques pesqueiros. O pioneirismo do Estado é apontado por especialistas como fundamental para impulsionar de vez a atividade e fomentar a criação de uma nova cadeia industrial, depois de ter aberto as portas jurídicas para a cessão de águas da União.
Esse era um dos principais entraves burocráticos para que a aquicultura ganhasse porte industrial no Brasil. Países como o Chile, Vietnã, Noruega, Taiwan e China, referências no asssunto, há mais de duas décadas concederam à iniciativa privada o direito de instalar as fazendas em alto-mar. Por aqui, o caminho foi mais tortuoso. Depois de ter estudado a viabilidade biológica para cultivar os beijupirás em águas marítimas, a Aqualíder assistiu seu projeto ir e vir, ao longo de três anos, por diversos órgãos públicos, do Ibama até a Secretaria de Patrimônio da União (SPU). Em 2008, finalmente a empresa venceu a primeira licitação para utilizar por 30 anos 169 hectares da costa do Estado. E hoje, segundo informações do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), há 150 pedidos de utilização de águas federais para criação de peixes. Desses, 28 são em Pernambuco, mas em espaços continentais.
“O Estado largou na frente de todos”, sintetiza o professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Ronaldo Cavalli, que também é coordenador do Projeto Cação de Escamas. O nome é como o beijupirá é comumente conhecido pelos pescadores. Em parceria com o MPA (que financiará o programa, orçado em R$ 2 milhões), Sebrae-PE, Petrobras, Fundação Odebrecht e Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), 120 pescadores das colônias de Brasília Teimosa, Piedade e Barra de Jangada aprenderão a cultivar beijupirás em seis tanques que têm, juntos, capacidade para produzir 12 toneladas de pescado. A previsão é que o peixamento (transferência dos filhotes de peixe, os alevinos, para as gaiolas) ocorra em janeiro de 2010.
O diretor de desenvolvimento da Aquicultura no MPA, Felipe Matias, reforça o coro ao classificar a despesca de amanhã como um marco. “Mostra para todo o mundo que o Brasil pode produzir peixes marinhos. O País agora faz parte desse mapa”, comemora. O planejamento do MPA é ambicioso. Deseja colocar o Brasil entre os cinco maiores produtores de peixe do mundo até 2020. A justificativa para tanto está nos números. São 10 milhões de hectares de águas continentais e 8,5 mil quilômetros de extensão de litoral para desenvolvimento da atividade.
Se esse objetivo for conquistado, uma nova cadeia industrial será desenvolvida no País, voltada para produção dos equipamentos e estruturas utilizadas para o cultivo dos peixes no mar e em lagos. A Aqualíder, por exemplo, precisou importar os tanques-rede do Chile. Cada um custou, em média, US$ 35 mil na época. Sem falar em cordas, equipamentos de segurança, sinalização etc. Esses valores são responsáveis por elevar o investimento da empresa, que será de R$ 10 milhões em todo o projeto. A pretensão é instalar 48 tanques para, quando a produção estiver no seu pico, despescar anualmente 10 mil toneladas de beijupirás.
No primeiro momento, considerado piloto, o foco é o abastecimento do mercado interno. O quilo do produto será comercializado a R$ 15 e a primeira despesca foi toda negociada com o Grupo Pão de Açúcar. “Fomos procurados por muitos compradores fora do Brasil e principalmente de outros Estados”, acrescenta o presidente da empresa, Manoel Tavares. O beijupirá tem grande aceitação em restaurantes de culinária japonesa e é indicado para o preparo do sashimi (um prato considerado nobre).
“Muitos provaram amostras nossas e ficaram ansiosos para receber o produto de forma contínua. Têm o desejo de substituir os peixes que utilizam atualmente, como o camorim e o meca, pelo beijupirá”, comemora Tavares. Para 2010, o planejamento é manter o mesmo número de gaiolas. “Mas no próximo ano haverá um maior povoamento. Serão 30 mil peixes por tanque. Vamos retirar 500 toneladas no final de 2010”, anuncia.
Da redação - Jornal do Commercio