Estaleiro e navio em construção

Duas obras saem juntas numa união de esforços para consolidar a indústria naval no estado
 
Se fazer reforma em casa já é um transtorno, imagine o que é trabalhar com a casa literalmente sendo construída. E uma casa imensa, que ocupa uma área equivalente a 400 campos de futebol.
 
As obras do Estaleiro Atlântico Sul, em Suape, correm em paralelo à construção de um grande navio e do casco de uma plataforma. De um lado, embutem-se as tubulações de água, saneamento básico, gás, energia elétrica, abrem-se e fecham-se estradas, finaliza-se galpões. De outro, cortadores e soldadores preparam as chapas de aço que vão compor as embarcações. Outros cuidam da pintura e do jateamento dos blocos. Geralmente, as linhas de produção são improvisadas.
 
É assim em qualquer parte do mundo. Mas Pernambuco até então não tinha ideia do que é ter um estaleiro do porte do Atlântico Sul, o maior a operar abaixo da linha do Equador. De estaleiro virtual, no lançamento da pedra fundamental no dia 31 de janeiro de 2007, ao primeiro corte de chapas, em setembro de 2008, o empreendimento evoluiu e hoje está 85% concluído. As dez embarcações iniciais multiplicaram-se. Já são 22 navios e o casco da P-55. Envolve o trabalho de cerca de nove mil pessoas - três mil na operação. Uma pequena cidade. Para atender a tanta gente, foi erguido um refeitório com capacidade para servir cinco mil refeições simultâneas.
 
O primeiro petroleiro Suezmax, que deverá singrar os mares em abril do ano que vem, aos poucos toma forma no dique seco, que por sua vez nem foi concluído ainda. O batimento de quilha, cerimônia que marca a colocação do primeiro bloco no dique seco, ocorreu no mês passado, com a presença do presidente Lula. Agora, corre-se para terminar a construção tanto do dique quanto desse primeiro navio em dezembro. "Quando isso acontecer, a porta batel se abrirá, o dique se encherá de água e o navio flutuará até o cais de acabamento", explica o presidente do EAS, Angelo Bellelis. Dos 730 metros de extensão do cais, 80 metros só serão concluídos em 2010.
 
Enquanto a área offshore não fica pronta, parte do casco da P-55, encomendado pela Petrobras, vai sendo montado ao lado do dique seco. Nos galpões, o frenesi é grande. Há pressa. Cada seção trabalha com metas bem arrojadas. Por dia, seis painéis precisam ser fabricados. A estrutura que abriga as oficinas de perfis curvos, de corte, fabricação de painéis, de pré-montagem e de perfis retos está pronta, mas o pátio de chapas, perfis e pré-tratamento ainda não. A área das oficinas de blocos planos, curvos e de conformação ainda recebe retoques.
 
De longe, o EAS parece um gigante branco, cheio de braços - os enormes guindastes. Uma paisagem que muda praticamente a cada dia. O primeiro dos dois pórticos Goliath, que chegou em julho, ainda está sendo montado. O superguindaste alaranjado vai levar quatro meses até começar a operar e terá uma altura equivalente a um prédio de 30 andares. O segundo está prestes a chegar. Cada Goliath tem capacidade para içar 1,5 mil toneladas, o que na prática irá diminuir o tempo de construção no dique seco. A montagem deum Suezmax, que duraria entre seis e sete meses, com os Goliaths será feita entre 2,5 e 3 meses. Coisa de primeiro mundo. Quando o EAS estiver operando a pleno vapor, em nada ficaremos devendo aos maiores estaleiros da Ásia.
 
Da redação - Diario de Pernambuco