Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a megacrise mundial seria, no Brasil, uma simples marolinha, foi censurado por muitos porque estaria criando expectativas ilusórias. Estávamos todos acostumados ao envolvimento brutal do País em muitas crises anteriores, sendo difícil esperar que, desta vez, a coisa seria diferente. Descontada sua retórica frequentemente sem peias, temos de reconhecer que a expectativa otimista de Lula, que os anglófonos chamam de wishful thinking, tinha sua razão de ser. No nosso País, a crise não foi certamente uma marola, mas também não pode ser vista como uma onda gigante. Em recente matéria na imprensa nacional, nosso colunista Elio Gaspari faz interessante e oportuna comparação entre a crise de 2008-2009 e aquela do final dos anos 90, que enfrentamos logo após a queda da cotação fictícia do real, depois da reeleição de FHC, conquistada em 1998 às custas desse artifício.
Em sua linguagem característica, escreve o prestigiado colunista: " ... os tucanos avançaram no bolso da patuleia, enquanto Nosso Guia [LULA]botou dinheiro na mão da choldra". Em 1998, IR, IOF, IPI, Cofins, CPMF foram para o alto, elevando a carga tributária de 28,6% para 31,1%. O PIB fechou o ano com o mísero crescimento de 0,03%. No ano seguinte, o salário mínimo encolhia 3,5% em termos reais. Na atual crise financeira mundial, vista como a mais severa desde a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, em vez de aumentar impostos, o governo desonerou setores industriais, baixou o IPI de carros, geladeiras e fogões, deixando de arrecadar cerca de R$ 6 bilhões nos primeiros meses da terapia. Uma mudança na tabela do IR (pessoa física) deixou cerca de R$ 5,5 bilhões nas mãos dos consumidores. A carga tributária caiu de 35,8% para 34,5%. E o salário mínimo teve ganho real de 6,4% este ano.
As consequências do tratamento de choque da crise anterior ajudaram Lula a se eleger em 2002. E a terapia usada na atual crise mantém seu prestígio inabalável. Hoje, considera-se a crise em declínio, com os Estados Unidos fora da recessão. O Brasil, onde se previa crescimento negativo, pode atingir aumento de 1% do PIB este ano. Em Pernambuco, os investimentos também estão de volta, o que se pode constatar por alguns números. A Tecon de Suape está investindo US$ 15 milhões este ano e anuncia mais US$ 40 milhões para o ano que vem. A Pamesa está finalizando um aporte de 10 milhões para ampliar sua fábrica de cerâmica. O equilíbrio de contas e as reservas monetárias atraem investimentos.
Na construção civil, grande empregadora de mão de obra e propulsora de setores como ferro, madeira, cerâmica, vidro, entre muitos outros projetos anunciados, destaca-se o que começa a ser implantado numa área que engloba o terreno onde funcionou a indústria de rum Bacardi e que tem como sócios os grupos JCPM e Cyrela Andrade Mendonça. Na infraestrurura, estão anunciados R$ 38 bilhões para o Nordeste nos próximos cinco anos. O Centro de Informática da UFPE e o Porto Digital conquistam fronteiras, inclusive externas. E não se pode deixar de falar da atração do Complexo de Suape em relação a investimentos, liderados pela Refinaria Abreu e Lima e o Estaleiro Atlântico Sul. Em todo o País, a produção de máquinas, termômetro de desenvolvimento, puxa o crescimento industrial.
Assim, acreditamos que é desculpável a retórica lulista da marolinha. A confiança no Brasil e os investimentos não arrefeceram totalmente durante a crise e agora estão voltando com firmeza e constância. Em setembro do ano passado, o mercado de ações e crédito sofria duro baque, simbolizado na falência de um banco americano tradicional, o Lehman Brothers. Em setembro deste ano, já se podia respirar aliviado. Um lado positivo da crise é que agora busca-se um consenso em torno de uma regulação mais estrita dos fluxos do mercado financeiro, cujo descontrole, desenvoltura e apego à especulação e ao faz de conta são justamente responsabilizados pelo estouro da bolha imobiliária nos EUA, que precipitou o caos no mercado. O mundo financeiro resiste, mas alguma solução se impõe, para que crise semelhante não se repita em breve.
Da redação - Jornal do Commercio