Entram refinaria e estaleiros; saem fome e mortalidade

No domingo passado, o conceituado economista e pesquisador social Clóvis Cavalcanti escreveu nesta página Öpinião um pungente artigo lamentando a saída dos cajus e das mangabas para entrada da Refinaria e dos Estaleiros na área de Suape.


Sem ter a formação do economista, nem a vivência do pesquisador, ouso aqui chamar a atenção dos leitores desta página para outra grande mudança de cenário nas terras do Complexo de Suape: entram a refinaria e os estaleiros, saem a fome, a mortalidade infantil e os homens-gabirus.


Conformado com os prejuízos ao meu paladar pela perda das deliciosas, coloridas e variadas frutas que vinham das reservas naturais de Suape, ameaçadas pela Refinaria, Estaleiros e demais investimentos estruturadores, me julgo compensado ao constatar que outros produtos estão sendo também erradicados para dar lugar aos investimentos industriais. E quem me disse isso foi nada mais nada menos que o presidente Lula, quando de sua recente visitaao Estado para presenciar o batimento de quilha do primeiro navio em fabricação no Estaleiro Atlantico Sul.


Ao passar no meio dos milhares - isso mesmo, milhares - de operários do Estaleiro, todos fardados, com botas, capacetes, óculos de soldador e outros equipamentos de proteção individual, o presidente fez e em seguida anunciou no palco, os resultados de uma pesquisa informal que ele aplicou com os operários: você é daqui da região? O que fazem seus pais? Você tem carteira assinada? Recebe seus direitos trabalhistas de férias, décimo-terceiro? As respostas foram as mesmas, e me tiraram da boca o gosto saudoso dos cajus e das mangabas, embora me desse vontade de tomar uma lapada de cachaça: eram todos aqueles jovens operários possuidores de carteiras de trabalho assinadas, alfabetizados e com cursos profissionalizantes, e filhos de plantadores de cana na região, pais hoje aliviados por não terem seus filhos de facão na palha da cana.


Qualquer pesquisa social que o respeitado Clóvis Cavalcanti vier a realizar naquela região vai constatar essa realidade e ainda o fim da fome, da mortalidade infantil e dos tristes homens-guabirus do saudoso Josué de Castro, que tinham mangabas e cajus nos sítios, mas não as proteínas, carbohidratos e gorduras para a sobrevivência e inserção num desenvolvimento que se não é tão sustentável quanto deveria, pelo menos é humano.

Da redação - Folha de Pernambuco