Do poço ao fio de poliéster. No momento em que o Brasil vive a euforia das descobertas na camada pré-sal, Pernambuco consolida investimentos que integram a cadeia produtiva de petróleo. Ontem, durante a vinda do presidente Lula ao estado para visitar as obras da Refinaria Abreu e Lima, inaugurar o Gasoduto Pilar(AL)-Ipojuca(PE) e iniciar a pré-operação da unidade de polímeros e filamentos de poliéster da PetroquímicaSuape, reforçou-se a importância de empreendimentos que venham gerar valor agregado ao produto que será extraído da megarreserva.
Com o desenvolvimento da cadeia, em detrimento da simples exportação, tem-se início um ciclo virtuoso de empregos de alta qualificação e melhores salários, fazendo a riqueza do "ouro negro" circular no país. Um novo cenário que já começa a acontecer em Pernambuco.
A construção da Refinaria Abreu e Lima marca uma retomada da cadeia do petróleo no país, que não investia em plantas de refino há 30 anos. A usina, que deve operarem dezembro de 2012, terá capacidade para processar 230 mil barris por dia, cerca de 11% da atual capacidade de refino do país. "O Complexo Petroquímico de Suape será a maior planta integrada de produção de poliéster das Américas", ressaltou o presidente Lula. Por ano, a planta que irá produzir poliéster em Pernambuco vai proporcionar uma economia de US$ 1 bilhão, hoje gastos com a importação do insumo, e gerar um faturamento anual de R$ 4 bilhões. O gasoduto, por sua vez, dobra a capacidade de transporte de gás natural para Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte - de 3,5 milhões para 7,5 milhões de m3- e torna possível o abastecimento dos grandes empreendimentos de Suape, como a Refinaria e a PetroquímicaSuape.
"Vemos aqui o desenvolvimento da cadeia do poço ao fio de poliéster. Não podemos ser como os países pobres que só exportam suas riquezas naturais. O que já aconteceu com o nosso pau-brasil e com o nosso ouro, não pode acontecer com esse petróleo do pré-sal. A indústria do petróleo gera empregos qualificados e é isso que gera renda e faz o país se desenvolver", defendeu o coordenador da Federação Única dos Petroleiros, João Antônio de Moraes. São oportunidades de trabalho como o da operadora têxtil júnior, Maria Alexsônia da Rocha, 28 anos, que entregou a Lula a primeira bobina de fios texturizados produzidos pela PetroquímicaSuape, representando os 1,8 mil empregados que serão contratados para operação das plantas do complexo. "Isso é o fruto do trabalho que vai mudar a vida de muita gente", disse ela ao presidente.
Fernando Bezerra Coelho, secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, ressaltou a vontade política para inverter a lógica do desenvolvimento. "Antes se exportava petróleo em vez de transformá-lo. Preferiam importar fios de poliéster e mandar fazer plataforma de navios no exterior". Segundo o secretário, a PetroquímicaSuape vai abastecer mais de 600 empresas do segmento têxtil do país e, a partir dela, outras indústrias serão atraídas para o Porto de Suape.
Orgulho de participar da história
O sentimento de participar ativamente de um novo curso da história da economia do estado era unânime entre a primeira turma de 167 concursados da PetroquímicaSuape - dentre eles, 138 pernambucanos. Eles serão as primeiras pessoas a operarem as máquinas que foram inauguradas na presença do presidente Lula. "Vejo isso aqui como o futuro da minha filha e de muitos que estão trabalhando na fábrica. Poderei dizer lá na frente que eu pisei aqui, quando nem tinha concreto no chão", comentou a operadora Maria Alexsônia da Rocha, 28 anos. Ela, que é casada e tem uma filha de 8 anos, atuava como artesã. "Agora tenho uma nova profissão, que dará mais estabilidade para minha família", disse ela.
Alexsônia fez o concurso da Petroquímica no final do ano passado, por acaso. "Eu me inscrevi por causa de uma amiga. Eu acabei sendo aprovada e ela não", comenta ela. Outra história curiosa é que teve o seu primeiro contato com as gigantescas máquinas da petroquímica, em 29 de junho, dia do aniversário da sua filha Maria Eduarda. "Hoje, eu representei os trabalhadores diante do presidente. Acho que foi o meu terceiro presságio", relatou ela, que se emocionou bastante ao lado de Lula.
"Geralmente, a gente vai trabalhar em uma empresa e já encontra ela pronta. É uma experiência única acompanhar a construção de um complexo desse porte", relatou o também operador têxtil, Erick Bezerra, 33 anos. Ele, que já trabalhou por quase dez anos no Diario de Pernambuco em várias funções, de entregador a planejador de manutenção do parque gráfico, e atuou como operador de outras indústrias do estado, está encantado com a atual carreira. "Estamos lidando com a mais alta tecnologia. Algo que era novo até para os pessoal do Senai, que fez o nosso curso de preparação", contou.
Parte dos funcionários foi levada em abril para fazer um treinamento em São Paulo, na fábrica da Vicunha. "Mesmo assim, quando a gente voltou para Pernambuco e conheceu as máquinas da Petroquímica ficamos impressionados. O que temos aqui é muito avançado. Não tem nem comparação", relata o universitário Victor Melo, 23 anos, que está no último período do curso de engenharia mecânica, na Politécnica da Universidade de Pernambuco. O concurso para operador têxtil júnior na Petroquímica proporcionou ao jovem o seu primeiro emprego com carteira assinada. "Todos na minha turma sonham com um trabalho em Suape", contou ele. Agora, o jovem já pensa em alcançar novos cargos dentro da empresa. "Haverá muitas funções ligadas à minha formação de engenheiro".
Para o supervisor têxtil Demóstenes de Oliveira Júnior, 45 anos, o emprego da Petroquímica também mudou radicalmente a sua trajetória profissional. "Nos últimos dez anos, eu trabalhei na área comercial", contou ele. Demóstenes foi um dos responsáveis por checar todos os procedimentos das máquinas inauguradas na solenidade com o presidente. "Chegamos bem cedo aqui para testar tudo. Trabalhar no complexo petroquímico é um desafio. Tudo aqui é grandioso. Depois de muitos anos, estamos vendo esse desenvolvimento acontecendo no estado. E fazer parte desse processo é uma honra", declarou ele.
Cadeia de petróleo consolidada
27/05/2011
                        
     
             
                     
                 
                