A Fiat não chega em Pernambuco sozinha. Trará consigo pelo menos outras 50 empresas. São fábricas de peças e componentes automotivos. Fornecedores de longa data que trabalham sob encomenda e em sintonia afinada com a montadora na cidade de Betim, em Minas Gerais. Eles serão os personagens coadjuvantes da cadeia produtiva automotiva em Pernambuco, já que o papel de destaque é do grupo italiano. Mas quando se analisa o impacto econômico que provocam, ganham mais atenção dos holofotes. Quando estiverem funcionando irão criar milhares de vagas de emprego, formarão a mão de obra, ampliarão a geração de riquezas dentro do Estado e aumentarão a movimentação de cargas (e de receitas) no Porto de Suape.
No próximo dia 28, quando deverá ser lançada a pedra fundamental da fábrica da Fiat, estima-se que cerca de 30 novas empresas sejam anunciadas. Para entender o impacto da chegada desses grupos, a melhor base de comparação é o desempenho do setor em Minas Gerais. Lá, a Fiat possui 88 fornecedores que geram R$ 6 bilhões por ano - 54% do PIB industrial do Estado mineiro. Na área considerada “centro nervoso” do complexo em Betim, passam todos os dias 30 mil pessoas. É um contingente tão alto que exigiu a implantação de serviços típicos de uma cidade: postos bancários (14), refeições (são servidas mais de 20 mil por dia), nove postos de saúde. Para fazê-los funcionar são gerados mais empregos indiretos, não necessariamente ligados a área industrial, e firmados contratos com empresas prestadoras de serviços, que contratam para atender a nova demanda.
Parte dos fornecedores é conhecida como sistemista. Trabalham dentro do parque industrial da montadora. Bem próximos da linha de produção. Isso porque precisam entregar as peças e componentes no momento em que serão utilizados. É o modelo de produção conhecido como “just in time”, ou, em bom português, “em cima da hora”. Os que não atuam nesse modelo fecham contratos com a Fiat, que se encarrega de buscar as encomendas. Trata-se do “milk run” - a corrida do leite - em alusão ao funcionamento da indústria leiteira, onde as fábricas transportam o leite do produtor rural à planta industrial.
Nos dois grupos, nem toda a produção é consumida exclusivamente pela Fiat. Muito é vendido no mercado internacional. Entre janeiro e novembro deste ano, Minas Gerais exportou US$ 973 milhões (R$ 1,65 bilhão) em autopeças. E para fabricarem seus produtos importam mais ainda. No mesmo período, trouxeram um total de US$ 1,29 bilhão (R$ 2,19 bilhões) em insumos de fora do País. Para Pernambuco, que possui o Porto de Suape, essa movimentação internacional representa altos valores de receitas portuárias, que, se bem empregadas pelos administradores públicos, ajudarão a construir a infraestrutura necessária para o Complexo Industrial Portuário receber todos os investimentos previstos e futuros.
“O impacto em uma economia local é muito grande. E o efeito multiplicador da chegada dos fornecedores trará um maior reflexo para Pernambuco que para Minas Gerais que, na época em que esse modelo de produção começou a ser implantado, no final da década de 80, tinha na siderurgia e mineração duas grandes atividades geradoras de riquezas”, comentou o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Édson Domingues.
por Felipe Lima - Jornal do Commercio
O efeito multiplicador da Fiat
26/05/2011
                        
     
             
                     
                 
                