Dentro de alguns dias, o Porto de Suape se transformará no coração da indústria naval do Brasil. Isso porque será no Estaleiro Atlântico Sul (EAS) que haverá o lançamento ao mar do primeiro navio desde a decadência do setor, ainda na década de 1980. Será o primeiro petroleiro oriundo de uma iniciativa do Governo Federal de retomar as edificações em nível nacional através do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef I). Em dezembro de 2009, foram R$ 11,2 bilhões em financiamentos do Fundo de Marinha Mercante para a área. No caso específico desta embarcação do EAS, do tipo Suezmax, o valor de compra está em torno de US$ 120 milhões.
O Suezmax é um grande navio, tendo 274,2 metros de comprimento, porte bruto (o seu peso somado ao peso das cargas que carrega) de 157,7 mil toneladas e capacidade de um milhão de barris. É próprio para fazer o translado dos barris de petróleo, atendendo a uma demanda da Transpetro (braço logístico da Petrobras). No dia 30 do mês passado, conforme garantiu o presidente do Estaleiro, Angelo Bellelis, a embarcação estava completamente edificada no dique seco. “O lançamento acontecerá em abril”, revelou, em entrevista à Folha.
E a expectativa é grande. A reportagem foi a Suape há duas semanas e acompanhou de dentro do dique seco (bacia de concreto onde o navio é construído) o trabalho de soldagem que está sendo executado na proa (parte dianteira) e popa (parte traseira). Os soldadores falam da empolgação que sentem apenas em pensar no lançamento do petroleiro às águas marinhas e a Transpetro escalou uma fotógrafa para fazer registros de cada etapa desse final. Esse processo ocorre por meio de válvulas de admissão que são abertas e bombam a água para dentro do dique, até encher o compartimento e fazer o Suezmax flutuar. Depois, é aberta a Porta Batel (comporta do dique seco) fazendo o navio entrar em contato com o mar.
Chegou-se a um pico de 1,3 mil trabalhadores nas diversas etapas da construção do navio e a vida útil de uma embarcação é de 25 anos. Ao final deste prazo, aquelas que se encontram em boas condições de conservação e que são submetidas à manutenção especializada regular, como os da Transpetro, prestam-se a uma conversão para plataformas de produção e estoque de petróleo.
Como as embarcações da Transpetro estão atingindo uma média de 17 anos (considerada idade avançada), a demanda por novas unidades aumentou de maneira extraordinária nos últimos anos: a atual carteira de encomendas dos estaleiros compreende 132 navios, três plataformas de produção e três de perfuração. Existem mais 136 encomendas para este ano. A Transpetro informou que ainda está definindo o nome do primeiro Suezmax do EAS, bem como quem será a sua “madrinha”.
EAS pode se tornar o maior da América Latina
Com base na carteira de encomendas que tem hoje, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) caminha para tornar-se o maior e mais moderno estaleiro da América do Sul. Essa é uma avaliação que surge dos envolvidos no polo naval graças à capacidade de ampliação da referida empresa, que analisa a hipótese de crescimento do empreendimento no futuro.
Atualmente, o pacote do EAS inclui a construção de dez Suezmax, cinco tankers Aframax, quatro Suezmax de posicionamento dinâmico (mais evoluído tecnicamente para explorar as regiões do pré-sal) e três Aframax de posicionamento dinâmico. Não obstante, há de se fazer o casco da plataforma P-55 - a estrutura será concluída no Rio Grande do Sul e poderá produzir 180 mil barris por dia.
O Estaleiro é uma obra de R$ 1,8 bilhão, que terá capacidade de processamento de 160 mil toneladas de aço por ano, ocupando uma área de 162 hectares. Um dos seus diferenciais são os guindastes pórticos Goliath (com capacidade de 1,5 mil toneladas cada e 2,7 mil toneladas em união). O EAS está praticamente edificado, tendo 96% das suas construções finalizadas. A perspectiva é de que esteja tudo terminado até o fim do primeiro semestre.
O consórcio que gere o Estaleiro é constituído pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Aker Promar e conta a tecnologia da coreana Samsung. A responsabilidade social e sustentabilidade são exigidas pela legislação vigente. Então, está em terraplenagem um condomínio com 1.328 casas para os operários, além de programas que elevam o nível de escolaridade dos habitantes do entorno de Suape e da criação de um Centro Treinamento (R$ 3,5 milhões), doado ao Governo do Estado. O EAS gera quatro mil empregos na operação, seis mil na obra e 20 mil indiretos.
Suape promove retomada da indústria naval no País
01/06/2011