Com o casco pronto para ser “batizado”, o petroleiro de 145,8 mil toneladas estacionado no dique seco do Estaleiro Atlântico Sul (EAS) é o melhor exemplo do renascimento de um setor que já foi forte no Brasil e viu seus negócios minguarem na década de 90. A indústria naval ganhou novo impulso por causa de dois eventos. O primeiro foi a criação do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da Transpetro. O segundo está no leque de oportunidades na exploração do petróleo na camada de pré-sal.
Nas duas primeiras fases do Promef foram contratados 49 navios, 22 deles construídos no EAS. “A consolidação de Suape como pólo naval depende da capacidade dos grupos lá instalados de seguir atendendo à Marinha Mercante com qualidade e preço competitivo. Demanda não vai faltar”, garante Sergio Machado, presidente da Transpetro
A indústria naval zarpou em direção a essa expectativa. Agora, com novas características. Os estaleiros estão mais modernos, possuem parcerias tecnológicas com grandes do mercado global, se deslocam em direção ao Nordeste e encontraram receptividade no Porto de Suape, na região metropolitana do Recife.
O estaleiro é o primeiro a operar, mas outros cinco já reservaram suas dezenas de hectares na área destinada à indústria naval em Suape. A nova indústria programa investimentos superiores a 2,2 bilhões de reais e promete criar 11 mil empregos diretos nos próximos anos. O Construcap Engenharia planeja investir 200 milhões de reais e se dedicar à construção de plataformas de petróleo, o Schahin-Tomé (do Grupo Schahin e Tomé Engenharia) quer aportar 300 milhões de reais e construir navios-plataforma, e o estaleiro da união entre a Galvão Engenharia e a Alusa estima investimentos de 900 milhões para construir navios offshore (de alto-mar) e plataformas semissubmersíveis. Há ainda o grupo português MPG Shipyards, com 255 milhões e a ideia de erguer navios de apoio e plataformas para turbinas eólicas, e o coreano STX, que assinou protocolo para investir 640 milhões na construção de sua 16ª unidade no mundo, esta especializada em navios-sonda e semissubmersíveis.
À exceção do MPG Shipyards, todos os outros aguardam o anúncio dos vencedores da terceira fase do Pronaf para seguir o exemplo do EAS, que partiu para a construção do seu estaleiro ao mesmo tempo que soldava as chapas do seu primeiro navio. “Tínhamos obras civis e atividades industriais ao mesmo tempo”, lembra Angelo Bellelis, presidente do estaleiro.
A MPG Shipyards não vai esperar pelas licitações, revela o diretor naval Carlos Costa. Empresa com tradição na região portuguesa de Setubal, tem pressa em produzir navios de apoio e plataformas. Admirador do porto pernambucano, Costa afirma ter visitado vários estados brasileiros em novembro, antes de descobrir o futuro endereço da MPG no Brasil. “Suape nos seduziu: os acessos, a infraestrutura, as condições gerais são extraordinárias”.
A boa maré em Suape
31/05/2011