Nesta sexta-feira, dia 7 de maio, será lançado ao mar em Suape, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro navio petroleiro construído no Brasil a ser entregue ao Sistema Petrobras após 13 anos. Mas não apenas isso. Será lançada ao oceano a primeira embarcação de grande porte produzida em Pernambuco em toda a sua história. Foram necessários mais de três anos desde a assinatura do contrato entre a Transpetro e um certo estaleiro que, por ser ainda virtual, gerava muita descrença.
Poucos acreditavam que o Brasil poderia retomar sua indústria naval, depois de mais de duas décadas de estagnação. E hoje temos a quinta maior carteira de encomendas do mundo. Poucos também acreditavam que os pernambucanos seriam capazes de construir navios. Felizmente, o que era sonho virou realidade. O João Cândido, um gigante de 275 metros de comprimento, quase dois campos e meio de futebol, finalmente deixará o dique seco do Estaleiro Atlântico Sul rumo aocais.
"Um país que não tem marinha mercante não é soberano. Por uma decisão do presidente Lula, estamos retomando a indústria naval em escala global e competitiva. O impossível só existe hoje, amanhã se torna real", comemora o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, muitas vezes tido como um sonhador. A subsidiária da Petrobras, que só comprava na Ásia e gastava por ano US$ 1,2 bilhão no afretamento de navios a armadores estrangeiros, encomendou 49 petroleiros a estaleiros nacionais, viabilizando essa retomada. E já pensa em novas contratações.
O João Cândido, o Suezmax nº 1, é o primeiro dos 49 petroleiros a ficar pronto. Daí tanto simbolismo, tanta comemoração. O lançamento ao mar funciona como uma espécie de batismo, o ponto mais marcante no processo de construção de um navio. Durante a cerimônia, a madrinha quebra uma garrafa de champanhe no costado e deseja sorte à embarcação.
"Será um marco histórico. Como numa gestação, nosso primogênito estará nascendo", prevê Angelo Bellelis, presidente do Estaleiro atlântico Sul. O dique já terá sido inundado 24 horas antes e o João Cândido, então, flutuará até o cais onde receberá o acabamento e passará por testes, até ser entregue ao cliente em agosto próximo.
Madrinha - A Transpetro ainda não anunciou quem será a madrinha do Suezmax nº 1, só sabemos que não será mais a ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, hoje pré-canditata à presidência da República. Já o nome João Cândido foi escolhido em homenagem ao marinheiro negro, filho de ex-escravos, que há cem anos liderou a Revolta da Chibata. O movimento, iniciado no Rio de Janeiro no dia 22 de novembro de 1910, pleiteava a abolição dos castigos corporais na Marinha de Guerra.
O Almirante Negro, como ficou conhecido, foi banido da Marinha e viveu precariamente, trabalhando como estivador e descarregando peixes na Praça XV, no Centro do Rio. Discriminado e perseguido, faleceu em 1969, aos 89 anos de idade. Retorna agora em grande estilo, emprestando o nome a um petroleiro suntuoso, que custou cerca de US$ 120 milhões (aproximadamente R$ 210 milhões).
O passo a passo da construção
- As chapas e perfis de aço chegam de navio no cais interno (1) e são armazenados no pátio de estoque (2)
- Depois seguem para as oficinas de processamento e panelização (3)
- A etapa seguinte é nas oficinas de montagem de blocos retos e curvos (4)
- Prontos, os blocos seguem para o setor de jateamento e pintura (5)
- A montagem dos blocos ocorre no dique seco (6)
- Após a finalização da montagem, o navio segue para o cais (1), onde recebe o acabamento
As etapas de construção do João Cândido
Contratação
O contrato para construção de 10 navios Suezmax foi assinado entre o EAS e a Transpetro em 30 de janeiro de 2007
Corte das primeiras chapas
Cerimônia de corte das primeiras chapas de aço ocorreu no dia 5 de setembro de 2008
Batimento de quilha (início da edificação)
A edificação do Suezmax 1 começou com a colocação do primeiro bloco de aço dentro do dique seco, no dia 11 de setembro de 2009
Lançamento ao mar
Cerimônia vai acontecer no dia 7 de maio de 2010. Na ocasião, o Suezmax sairá do dique e irá para o cais de acabamento. Antes, será estourada uma champanhe em seu casco, simbolizando o batismo
Entrega
A entrega do Suezmax 1 à Transpetro está prevista para agosto de 2010, após passar por todos os testes
Construção será mais acelerada
O primogênito do Atlântico Sul nasce depois de uma gestação de oito meses, que é o tempo decorrente desde o batimento de quilha. Seus irmãos, entretanto, serão gestados em bem menos tempo. Com a entrada em operação do segundo pórtico Goliath, em junho deste ano, cada navio passará entre três e meio a quatro meses no dique, diminuindo pela metade o tempo de construção.
O primeiro Goliath já está em operação desde o início do ano. Sua primeira manobra foi a edificação do motor principal do Suezmax nº 1, que pesa aproximadamente 600 toneladas. Trata-se de um superguindaste com 100 metros de altura (o equivalente a um prédio de 30 andares), vão (distância entre as "pernas") de 164 metros e capacidade para içar 1,5 mil toneladas. Cada um desses superguindastes chegou de Hong Kong desmontado em 170 partes, levando quatro meses para ser montado.
Fabricados pela WIA, os Goliaths custaram US$ 68 milhões ao EAS. Estão entre os maiores do mundo e possuem a mesma capacidade dos que estão instalados nos estaleiros mais modernos da Ásia. Em Suape, eles trabalham conjuntamente, de forma sincronizada, com dois operadores cada. Para se ter uma ideia, eles sobem os 100 metros de escada e só descem ao fim do expediente. Lá em cima tem tudo o que eles precisam - água, refeições, toalete etc.
"Quando o primeiro navio sair do dique entrarão o casco da P-55 e o Suezmax nº 2, simultaneamente", antecipa Angelo Bellelis. O segundo Suezmax deverá ser entregue à Transpetro até o fim do ano, enquanto que o casco seguirá para o estaleiro de Rio Grande (RS), no segundo semestre, onde a plataforma terminará de ser montada.
O EAS tem em carteira 22 navios encomendados pela Transpetro e a P-55 da Petrobras. Os contratos somam US$ 3,4 bilhões. O investimento no estaleiro é de R$ 1,4 bilhão, gerando hoje 3,7 mil, empregos na área industrial. Outros dois mil homens ainda concluem a construção do empreendimento.
Promef responsável pela retomada do setor
O Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) foi o grande responsável pelo renascimento da indústria naval brasileira. O programa, lançado em 2004, só deslanchou em 2007, com a liberação de recursos do Fundo de Marinha Mercante (FMM) e a contratação dos dez primeiros navios com o EAS. Foram 26 embarcações na primeira fase e 23 na segunda, totalizando 49 embarcações. O Promef 3 poderá ser anunciado a qualquer momento.
"O Promef está promovendo o desenvolvimento econômico ao mesmo tempo em que muda a vida das pessoas. Nossa preocupação não foi apenas encomendar navios, foi criar uma indústria sustentável agora e no futuro", defende o presidente da Transpetro, Sérgio Machado. O programa já gerou 15 mil empregos no país e esse número chegará a 40 mil quando todas as encomendas estiverem contratadas. Das 49, 46 foram licitadas e 33 estão efetivamente contratadas, somando US$ 3,9 bilhões.
O lançamento do segundo navio do Promef 1 será em junho, desta vez no Estaleiro Mauá, no Rio de Janeiro. Machado lembra que só as demandas do pré-sal, que vai dobrar a produção nacional de petróleo, são suficientes para manter aquecida essa indústria nas próximas décadas. A Petrobras opera com 180 petroleiros com idade média de dez anos. Apenas 52 são próprios.
Angelo Bellelis, presidente do EAS, diz que tem interesse em participar de novas licitações. Só que agora o maior estaleiro do hemisfério sul terá mais concorrentes, porque o Promef está fomentando a instalação de novos estaleiros em vários pontos do país. Só em Pernambuco estão previstos mais cinco empreendimentos desse tipo (MPG Shipyards, STX Europe, Construcap, Alusa/Galvão e Tomé-Schahin).
Por dentro do Suezmax
O que é
Navio petroleiro de óleo cru, ou de produtos, com dimensões máximas que permitem a passagem pelo Canal de Suez, que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho, no Egito
Comprimento
275 metros
Boca
48 metros
Calado de projeto máximo
17 metros
Capacidade
157 mil tpb, correspondente a 1.050 mil barris
Quanto custa
Cerca de US$ 120 milhões
A construção de um único Suezmax demanda
17 mil t de chapas de aço
6 mil t de perfis
3 mil t de tubos
250 mil litros de tinta
900 mil metros cúbicos de oxigênio
80 quilômetros de cabos elétricos
12 mil m² de pisos
500 t de eletrodos
Fontes: EAS e Transpetro
Primeiro navio genuinamente pernambucano
31/05/2011