Suape também é dos pequenos

Sérgio de Souza Alvarenga deixou de lado 12 anos de trabalho na boleia de um caminhão para se transformar num microempresário. Nas suas idas e vindas para entregar mercadoria no Complexo de Suape ficou sabendo que a Spice Gourmet - empresa de alimentação do Estaleiro Atlântico Sul (EAS) - precisava terceirizar o trabalho de descascar macaxeira, inhame e batata doce para otimizar os procedimentos na sua cozinha industrial. O ex-caminhoneiro vendeu o carro que tinha, juntou o dinheiro com a indenização da esposa e criou a microempresa Produto da Roça. A história de Sérgio realça o que acontece hoje em Suape: os grandes empreendimentos em implantação no complexo irradiam oportunidades de negócios para além de suas cadeias produtivas e abrem espaço para pequenos e médios empreendedores.

“Investi cerca de R$ 30 mil na compra de uma kombi para fazer o transporte dos produtos e na construção de um galpão com freezer, caixa d’água e balcão de inox para realizar o trabalho. Enquanto o estaleiro estava em obra (com um grande número de operários fazendo refeições) cheguei a ter 14 pessoas trabalhando. Hoje, com o efetivo voltado apenas para a operação, tenho quatro ajudantes”, conta Sérgio. Só para a Spice Gourmet, a Produto da Roça descasca uma média de 500 a 600 quilos de raízes por dia. Além da cozinha industrial do EAS, a empresa conta com pelo menos mais seis clientes na região de Suape, incluindo restaurantes como o Alfredão da Pituzada.

Na labuta de caminhoneiro, Sérgio conseguia uma renda mensal entre R$ 1,5 mil a R$ 1,9 mil. A empresa fatura uma média de R$ 15 mil e gera um lucro líquido de R$ 2,5 mil por mês. “O progresso de Pernambuco está focado em Suape. As oportunidades são as mais diferentes possíveis e cabe a todos nós saber aproveitar”, alerta. O empresário também está multiplicando a geração de renda na região onde mora. Além de contratar pessoas do bairro da Muribeca (Jaboatão dos Guararapes), onde está instalada a empresa, também compra a macaxeira a 12 produtores locais. “O inhame e a batata doce vêm da Ceasa porque os agricultores daqui não plantam, mas a macaxeira faço questão que seja daqui”, assinala.

Sem saber, o microempresário está contribuindo para gerar o que os economistas chamam de efeito renda. “Os impactos dos grandes empreendimentos vão além da compra de máquinas e insumos dentro da cadeia produtiva. Os negócios desencadeiam uma enorme demanda de bens e serviços que acelera a economia local”, explica o economista Sérgio Buarque.

Suape também transformou em empresária a ex-comerciária Verônica Gomes. Funcionária de uma empresa de fardamento, ela decidiu montar seu próprio negócio. Usou a poupança de R$ 8 mil que tinha para comprar tecidos e três máquinas de costura. Localizada no Cabo de Santo Agostinho, a Cabo Fardas fornece para oito empresas em Suape, principalmente empreiteiras. “Nosso projeto agora é oferecer um serviço diferenciado de fardamento para pronta-entrega. Hoje, um pedido demora, no mínimo, 15 dias para ficar pronto”, diz, demonstrando que está atenta à necessidade de inovar.

Empresa de ônibus em plena expansão
A efervescência de negócios em Suape também está empurrando pequenos empreendedores para o patamar de empresários de médio porte. Fundada em 1996, com foco no mercado de turismo, a empresa de locação de ônibus RCR é hoje uma das principais transportadoras de funcionários do complexo.

Dos 210 ônibus da frota, 65 foram comprados exclusivamente para atender ao Estaleiro Atlântico Sul, com investimento de R$ 15 milhões. “Começamos a fazer o transporte para a administração do EAS com uma van e quatro funcionários. Hoje eles são o nosso principal cliente, respondendo por 25% do faturamento”, observa o diretor executivo da RCR, Ricardo Aguiar. Além do estaleiro, a empresa também a atende a outros empresas como M&G, Unilever, PetroquímicaSuape, Arcor, Pamesa e outras, totalizando 190 ônibus em operação no complexo e a contratação de 300 motoristas. É de Suape que sai 90% do faturamento da empresa. A RCR começou a atender o porto em 2002, por meio de um contrato com a indústria gráfica Quebecor.

DOÇURA

O empresário potiguar Pedro Macedo Neto, radicado em Pernambuco há 30 anos, viu no segmento de alimentação a oportunidade de ganhar dinheiro no complexo portuário. Há nove anos atuava com o self-service Doçura, em Ipojuca, quando decidiu abrir uma filial em Suape. Localizado no posto Petrobras na entrada do porto, o restaurante é ponto de encontro dos profissionais do complexo. O lugar é frequentado tanto por trabalhadores das empresas quanto pela diretoria de Suape.

O restaurante gera 20 empregos diretos e contrata pessoas da região. Com menu diversificado, o Doçura de Suape funciona apenas para o o almoço, de segunda a sábado, das 11h30 às 15h30. O self-service prepara uma média de 250 refeições por dia. “Abrimos a filial de Suape de olho no crescimento, na chegada de novas empresas ao complexo”, diz o empresário, lembrando que a região também vive períodos de sazonalidade na fase de construção das empresas, quando aumenta a demanda de operários trabalhando no complexo.

Driblar a burocracia, o maior desafio
Depois de descobrir as oportunidades de negócios no Complexo de Suape, os micros e pequenos empreendedores precisam enfrentar um novo desafio: conseguir crédito para aumentar suas empresas e ganhar escala de produção. Com pouco tempo de atuação no mercado e sem condições de atender a muitas das exigências dos bancos oficiais, as empresas se deparam com negativas das instituições financeiras.

“Para fornecer aos consórcios que trabalham na obra da Refinaria Abreu e Lima preciso trocar a minha Kombi, porque lá no terreno do empreendimento só rodam carros com idade a partir de 2005 e o meu é 2000. Tentei conseguir crédito no Banco do Brasil (BB) para comprar um caminhãozinho, mas eles me fecharam as portas, porque minha empresa só tem um ano e meio de mercado e o tempo mínimo de exigência é de dois anos”, conta Sérgio de Souza Alvarenga, da Produto da Roça.

A empresária Verônica Gomes, da Cabo Fardas, conta que deixou de fechar um contrato com a Odebrecht por que não tinha capital para comprar o tecido e aumentar o número de máquinas de costura para atender à demanda. “Sei que a minha empresa é bastante recente (tem 5 meses) e os bancos não vão sair liberando crédito sem exigências, mas é difícil ter que segurar o ritmo de crescimento do meu negócio, porque não tenho onde buscar os recursos a curtos prazo”, lamenta. A empreendedora calcula que precisa fazer um investimento de R$ 20 mil para triplicar a atual capacidade de produção de fardas da confecção.

ALTERNATIVA

Além de linhas específicas para o Empreendedor Individual (EI), oferecidas pela Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, outras operadoras de crédito têm alternativas para micros negócios e até empresas informais. Fundada em 1992, a oscip (organização da sociedade civil de interesse público) Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos de Pernambuco (Ceape-PE) oferta crédito com baixo nível de exigência burocrática, com taxas de juros compatíveis com as do mercado.

“Suape é uma excelente oportunidade de negócio para os microempresários e a Ceape pode ser uma alternativa de crédito para esse perfil de empresário. Hoje contamos com uma unidade em Prazeres (Jaboatão dos Guararapes), que pode atender a esse público”, destaca o diretor geral do centro, José Ventura. Para solicitar o crédito, a empresa precisa ter apenas 6 meses de atuação. Os empréstimos vão de R$ 200 a R$ 15 mil e o prazo de pagamento varia de 6 a 10 meses, dependendo do tipo de empréstimo. A taxa de juros é de 3,02% ao mês e tempo médio de liberação do dinheiro é de 72 horas.

» Serviço
Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos de Pernambuco (Ceape-PE) - www.ceape-pe.org.br
Unidade no Recife - Avenida Visconde de Suassuna, 607 - Boa Vista.
Unidade em Jaboatão dos Guararapes - Avenida Barreto de Menezes, 615 - Prazeres - F. 3231.4259