Os fruticultores do Vale do São Francisco vão contar com um crédito extra para enfrentar a crise atual e poder financiar a safra deste ano. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou uma linha de financiamento extra, estimada em R$ 170 milhões, com um ano de carência para pagar, juros anuais de 11% e três anos de prazo. Segundo as conversas de ontem entre o ministro e os governadores da Bahia e de Pernambuco, Jacques Wagner e Eduardo Campos, respectivamente, o recurso será repassado por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES).
A informação é que o ministro vai levar a decisão de conceder crédito extra para a pauta de hoje da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) para avalizar a medida. Hoje, o governador Eduardo Campos reúne, no Palácio do Campo das Princesas, integrantes do Banco do Brasil, Banco do Nordeste e do próprio BNDES. O objetivo do governador é divulgar essa negociação com o ministro, tanto para os bancos, quanto para os produtores, para iniciar o processo de crédito novamente. O Banco do Nordeste já anunciou um refinanciamento das dívidas antigas dos produtores.
A linha emergencial divulgada ontem tem como base o Programa Revitaliza, o mesmo usado em Santa Catarina para amenizar os estragos causados pelas chuvas. Os governos estaduais também pediram reforço na presença de técnicos das instituições financeiras para atender melhor os produtores da região. O Vale do São Francisco engloba sete municípios entre o Estado da Bahia e Pernambuco, tendo como principais pontos Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). Com a renda na região atrelada à agricultura, uma crise nesse setor pode ter impacto grave sobre os demais setores que atuam nesses pontos.
A lista de problemas enfrentados pelo setor no Vale do São Francisco é longa e tem consequências nunca vistas na região. A perda de mercado externo para escoamento da produção de uva e de manga em locais como os Estados Unidos e Europa puxaram o preço da mercadoria a tal ponto que sequer foi possível garantir o retorno dos custos da produção de 2008.
A incerteza de manter o comprador final também fez com que o crédito – feito, até então, em larga escala por empresas que compravam antecipadamente as frutas para abater no preço final de venda no exterior – sumisse da “prateleira”. Sem saldo da safra passada e sem crédito novo, os produtores começaram um processo de demissão e de suspensão das atividades das fazendas na região, responsáveis pela geração de 240 mil empregos na safra.
O risco de demissão de cerca de 90 mil pessoas, entre 40 mil e 50 mil a mais do que na entressafra normal, e o impacto com o fim das operações de grupos na região foi debatido em uma série de reportagens publicada pelo Jornal do Commercio entre o domingo (25) e ontem. A falta de mercado e o preço aviltado levou algumas empresas a jogarem fora toneladas de mangas e programarem readequações para a nova safra, com redução drástica de mão de obra, chegando a um terço da adequada, e da área plantada.
Nos últimos dois meses do ano, período mais agudo da crise mundial, os preços ficaram tão aviltados que muitos empresários chegaram a enterrar parte da produção, tendo em vista que o preço ofertado era tão baixo que não compensava nem a operação comercial. Além disso, as mercadorias que embarcaram e que não foram vendidas tiveram que ser incineradas, com custo bancado pelo produtor local, aumentando ainda mais os prejuízos.
Os empresários devem ter o fechamento das operações no próximo mês, quando os representantes comerciais no exterior vão informar oficialmente o preço final das mercadorias.
Fruticultores terão crédito emergencial
18/07/2011