A rota do emprego aponta para o mar. O crescimento econômico alavancou a indústria naval e de offshore com oportunidades para os trabalhadores. São duas frentes. Na terra: a construção de navios, plataformas de petróleo e sondas nos estaleiros demandam uma gama de profissionais especializados de nível técnico e superior. No mar: a chegada das 49 novas embarcações da primeira etapa do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da Transpetro vai exigir a formação de pessoal náutico para operar os navios.
Em Pernambuco, o ponto de partida é o suezmax João Cândido, construído no Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Suape. Quando singrar mares em agosto, o primeiro petroleiro genuinamente pernambucano abre fronteiras para a consolidação de um novo mercado de trabalho no estado. Um potencial de 48,7 mil empregos diretos e indiretos nos próximos cinco anos.
O desafio é a formação profissionais na velocidade da retomada da indústria naval no país. Esforço redobrado paraos pernambucanos, porque a formação de mão de obra voltada para o setor naval ainda engatinha nas bancas das escolas. Para montar o quadro de 3.400 funcionários e construir o João Cândido, o EAS teve que instalar um centro de treinamento para formar soldadores em Suape. A maioria dos trabalhadores de chão de fábrica foi recrutada nos municípios pernambucanos próximos ao estaleiro, mas foram convocados técnicos do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, São Paulo.
"Nosso grande desafio e das universidades é formar mão de obra de nível técnico e superior"
Gerson Beluci - diretor administrativo do EAS
Oportunidade para um grupo de 120 dekasseguis (descendentes de japoneses) atravessarem o oceano e retornarem do Japão para o Brasil, via Pernambuco. As dificuldades de pessoal especializado no setor naval é reconhecida pelo diretor administrativo do EAS, Gerson Beluci: "O nosso grande desafio e das universidades é formar mão de obra de nível técnico e superior. Os engenheiros, por exemplo, contratamos e tivemos que treinar". Otimista, o executivo acredita na flexibilidade do brasileiro para se adaptar à nova realidade econômica e profissional.
Tomara. O número de empregos no setor naval pulou de 1.910 postos de trabalho em 2000 para 46.500 em 2009. Até 2013, o Sindicato da Indústria Naval estima que o setor empregue 60 mil trabalhadores no país com a chegada de novas encomendas de navios petroleiros e plataformas para exploração do petróleo na camada do pré-sal. Pernambuco não ficará para trás. Com a previsão de instalação de mais cinco estaleiros em Suape, se multiplicam as possibilidades de criação de 18,3 mil empregos diretos e 30,4 mil indiretos no setor. A estimativa é da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Inclui os estaleiros e o polo petroquímico.
Nada de perder tempo. Os pernambucanos devem ficar antenados para não deixar o cavalo passar selado e perder as oportunidades. Wallace Kleberson, 19 anos, morador de Barra de Jangada, está ligado no novo mapa do emprego. Inscreveu-se para fazer um curso de solda para navios no Centro de Treinamento do EAS. A concorrência é grande para entrar na turma de 200 alunos. Eletrabalhava como estoquista quando surgiu a oportunidade no estaleiro. "Me interessei porque acho que aqui está o futuro e posso crescer. Pretendo fazer carreira. Sair da solda para dentro do navio", diz.
Quando o assunto é solda para navios, as mulheres mostram que podem se sair tão bem quanto os homens. Claudicéia Sena, 26 anos, ensino médio completo, trocou a função de gerente de loja em Jaboatão para brigar por espaço na indústria naval que desembarca em Suape. Hoje, ela frequenta o curso de solda com duração de dois meses. A turma tem predominância masculina, mas não intimida a pernambucana: "Por ser mulher e mesmo sem experiência eu não tive dificuldades. Se Deus quiser quero me formar e vou colocar a mão na solda do próximo navio". Claudicéia tem planos de fazer curso superior com especialização voltada para a indústria naval. E fazer carreira no ramo.
Chance de emprego agora vem do mar
31/05/2011