Para oferecer apoio mais próximo ao produtor e ao exportador de frutas do Vale, o Instituto de Tecnologia de Pernambuco acaba de inaugurar em Petrolina seu primeiro escritório no interior do Estado. Com uma sala no Centro de Convenções, a instituição vai oferecer orientação a projetos de exportação, informações sobre uso de defensivos químicos e lançar uma incubadora de empresas. Alunos dos cursos de vitivinicultura e enologia do antigo Cefet já manifestaram interesse em encubar vinícolas no instituto. À frente do Itep está o físico Frederico Montenegro, professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco, que concedeu esta entrevista a Renata Freitas, especial para o JC-Vale .
JC – O que levou o Itep a implantar um escritório no Vale do São Francisco?
FREDERICO MONTENEGRO – O volume de serviços que já são oferecidos pelo Itep para a região. Já vínhamos perseguindo a implantação desse escritório há quatro anos. E agora se realiza com o convite feito pelo prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio, e pelo vice-prefeito, Domingos Sávio, para que possamos estar mais próximos do produtor, apoiando-o nas exportações.
JC – Como será o trabalho?
MONTENEGRO – Teremos um técnico para atendimento ao produtor e teremos um balcão de serviço estendido do Itep para a região. As coletas de amostras poderão ser realizadas daqui e encaminhas para a nossa sede, no Recife, onde serão feitas as análises. Também serão oferecidos outros serviços que ainda não são usualmente usados pelos produtores da região, como análise de água, de suco e de bebidas alcoólicas. Isso é algo que já é feito, mas é pouco divulgado aqui. Expandiremos esses serviços e apoiaremos o produtor de forma mais próxima, orientando sobre o uso de agrotóxicos, a amostragem, que passa a ser um requisito para exportações. Um diferencial que vamos disponibilizar, a partir desse ano, para a população da região é a implementação de um centro colaborador do Ministério da Agricultura, numa parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sertão Pernambucano (antigo Cefet).
JC – Como funcionará o centro?
MONTENEGRO – Teremos extensionistas e técnicos dando apoio ao produtor em tudo o que se refere ao uso de agrotóxicos, aos cuidados, à amostragem, ao acondicionamento e envio de amostras. Vamos informá-los sobre a lista de agrotóxicos que não devem ser usados por estarem banidos de países europeus, e forneceremos outras informações para que o produtor tenha um acesso seguro ao mercado internacional.
JC – O Itep vai oferecer esse tipo de apoio também a produtores que atuam no mercado interno?
MONTENEGRO – Certamente. Temos algumas metodologias para melhoria de competitividade das empresas para acesso a esses mercados. Infelizmente, não há um requisito de qualidade tão forte no mercado interno, quanto aquele que é exigido pelo exterior. Somente no ano passado é que começamos a fazer análise de algumas frutas e hortigranjeiros em geral que estão destinados ao mercado interno. Por meio de uma ação do Ministério Público, produtores que tinham acesso à Central de Abastecimento do Recife, a Ceasa, foram obrigados a coletar amostras desses hortifrutigranjeiros e enviar para nossas análises. Os resultados preliminares divulgados pela APVISA (Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária)demonstram que, em alguns casos, 45% das amostras analisadas apresentaram limites máximos de resíduos, acima dos permitidos pela legislação. Isso realmente é preocupante, tendo em vista que esses produtos podem causar danos à saúde humana. Iremos atender a todos os produtores que tenham interesse em cumprir essa legislação. E esperamos que em breve essa legislação seja aplicada para que nós possamos ter produtos de qualidade na nossa mesa, assim como ocorre na União Européia, nos Estados Unidos e no Japão.
JC – Como é essa assistência?
MONTENEGRO – Nesse extensionismo, realizado com programas como o Sibratec (Sistema Brasileiro de Tecnologia), podemos capacitar o produtor para técnicas de produção mais limpa, nas quais utilize o agrotóxico quando necessário, mas na proporção correta, o agroquímico apropriado para aquela aplicação e que não deixe resíduos que possam causar danos à saúde humana. Esses agroquímicos têm um período que podem causar danos à saúde. Depois, eles volatizam e, após um certo tempo, a fruta pode ser consumida sem nenhum problema.
JC – O Itep instituto também pretende lançar uma incubadora de empresas em Petrolina?
MONTENEGRO – Chegamos a Petrolina com uma proposta de incubação de cinco empresas no primeiro ano. Essa proposta já foi apresentada ao governo estadual para que possa apoiar esse processo. Temos inclusive com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Sertão Pernambucano uma demanda localizada na vitivinicultura. Os egressos do curso de vitivinicultura e enologia apresentaram interesse de incubação de empresas com o apoio do IFPE. Novas vinícolas podem se instalar na região. Iremos atender essa demanda e outras que venham a surgir aqui, o que não é muito difícil, porque o Vale do São Francisco é um Vale de inovação. Certamente, vamos ter uma demanda forte.
JC – Como funcionará a Rede Metropolitana de Internet de Alta Velocidade de Petrolina e Juazeiro?
MONTENEGRO – Somos o ponto de presença da Rede Nacional de Pesquisa (RNP) em Pernambuco. Esse ponto está localizado no Recife e somos responsáveis pelo tráfego de internet da RNP para vários Estados do Norte e Nordeste. Em Petrolina, temos duas instituições federais que já usam esse tráfego, que são o IFPE e a Univasf. Em uma visita recente ao IFPE, verificamos que havia uma deficiência na chegada do sinal, que é feito por rádio. Discutindo com o presidente da RNP, Nélson Simões, e surgiu a proposta de fazer uma Rede Metropolitana de Internet na região. Nélson Simões verificou ela poderia ser implantada, ainda esse ano.
JC – Qual o volume de financiamento?
MONTENEGRO – Normalmente, se colocam orçamentos em torno de R$ 700 mil para cada rede metropolitana no País. Será a primeira rede integrando dois Estados.
JC – Que benefícios a rede trará?
MONTENEGRO – O primeiro benefício é para as instituições de pesquisa. Há uma deficiência notória no acesso à comunicação digital nessas instituições. Estudantes e pesquisadores vão ter acesso aos canais de comunicação mundial ligados a essa rede. Isso dará celeridade à implantação de novas pesquisas e à conclusão das já existentes. Na parte de ensino, metodologias como técnicas de ensino à distância podem ser disponibilizadas, já que a gente terá uma velocidade que permite o acesso a vídeo. A rede também fomenta parcerias, já que ela liga essas instituições as outras que fazem parte da Rede Nacional de Pesquisa no Brasil. Temos também o acesso à internet mundial. Através do consórcio, cada usuário terá direito ao acesso à internet mediante preços mais convidativos, já que a contratação desse serviço no mercado internacional é feito em larga escala para a RNP, barateando os custos. Também serão estiradas algumas fibras adicionais para que as prefeituras dos municípios que estão sendo contemplados pela rede possam fazer uso delas na execução de políticas públicas, como a execução de projetos de apoio à agricultura familiar, aos pólos irrigados.
Novas vinícolas podem surgir na região do Vale
14/07/2011