Moldando o desenvolvimento

Trabalho duro, pesado, minucioso e que exige muita concentração. Mas por trás disso tudo vem uma boa recompensa. Os soldadores que um dia foram vistos com olhos enviesados da sociedade, entre óculos protetores, avental, capacetes e faíscas começam a se tornar exemplo de sucesso para muitos jovens que buscam uma formação mas não querem encarar um graduação para entrar no mercado de trabalho. Ainda mais em Pernambuco, que vive um momento bem favorável para esta profissão, com uma remuneração nada ruim.

Na verdade, é um retorno da categoria em grande estilo. Isso porque na década de 1980 eles foram bastante requisitados pelo mercado de trabalho, mas acabaram sendo esquecidos posteriormente. O tempo passou e esse cenário se modificou, principalmente com a reinstalação do setor naval no estado. Agora não se fala mais em outra coisa, a não ser o investimento em cursos técnicos na área. Tanto o setor de obras, naval, civil ou de montagem de autopeças representa algumas das fontes de segurança para se obter estabilidade profissional no ramo. "O curso técnico para soldadores está bem disputado no mercado, já existem cerca de 1.800 alunos interessados. O que antigamente não era muito bem quista, a solda já representa um dos setores que oferecem boa estabilidade financeira, afinal, eles ganham um dos melhores salários pagos atualmente em categorias técnicas", explica o coordenador do curso técnico de soldagem do Senai Cabo, Jeová Inocêncio.

Sabendo das boas oportunidades que lhe esperam, ou melhor, das remunerações salariais que variam de R$ 800 a R$ 8 mil, Ivo Cavalcanti trocou a faculdade de jornalismo, posteriormente a graduação de administração de empresas para dar uma guinada na vida e se transformar em um bom soldador. "Percebi o quão importante a profissão vem se tranformando. E como desejo ter um bom salário quero me especializar cada vez mais. Já fiz um curso de solda do tipo Mig Mag no Senai do Cabo e tive um bom aproveitamento. O próximopasso é entrar no mercado de trabalho", conta o estudante que já está passando por uma série de seleções para iniciar a carreira, mas diz que já almeja uma função: a de inspetor de soldagem.

Função que Jamile Tenório, 23 anos, exerce numa empresa do ramo de construção civil. Ela descobriu a profissão ainda cedo, aos 18 anos, enquanto se preparava para escolher o que iria seguir na vida. Uma das primeiras saídas que encontrou foi um curso técnico e não hesitou à vaga oferecida pelo Senai. "Eu não queria trabalhar diretamente na atividade de soldagem, preferia uma área da profissão que fosse mais ligada à parte técnica, mas descobri que através do curso poderia me especializar nisso", revela. Disciplinas como inspeção de solda, controle de qualidade e custos na soldagem foram primordiais para que Jamile ingressasse de imediato na MCM Construções e Montagens e se tornasse uma inspetora de solda. "O meu trabalho se resume a preparar todos os equipamentos e acompanhar o desempenho da execução de testes com os demais soldadores, para que, de acordo com a aprovação, eles sejam encaminhados para as obras. Ainda não sou totalmente qualificada, por isso que meu salário se resume a R$ 2 mil, mas assim que eu obtiver uma boa especialização, a remuneração só tende a aumentar", revela a soldadora bastante satisfeita.
Três caminhos a seguir

Para quem deseja investir na carreira, o Senai Cabo oferece três caminhos. Os cursos de aperfeiçoamento, de qualificação ou de soldagem oferecem aos interessados boas maneiras de se destacar nesse mercado promissor. "Nós focamos na tecnologia específica, então tanto aperfeiçoamos aqueles que são mais experientes como formamos um soldador qualificado ou um técnico de soldagem. Primeiramente, eles cursam uma iniciação profissional com um módulo introdutório (QSMS - Sistemas de qualidade, saúde, meio ambiente e segurança) e depois partem para os módulos de prática, ou seja, para a soldagem em si", explica Eduardo Veiga, diretor do Senai Cabo.

Determinação e poder de concentração aliados à segurança no trabalho são fatores que influenciam diretamente quem deseja seguir a carreira, afinal, a profissão exige o máximo de cuidado durante a prática de soldagem, pois a claridade do ponto de solda e a fumaça podem afetar tanto a vista quanto os pulmões do profissional. "Nas aulas práticas nós costumamos exigir o máximode cuidado dos alunos, para que eles possam se familiarizar desde o início. Para isso, dispomos de 12 cabines, cada uma com um aluno e um instrutor que possa orientá-lo. E, claro, é imprescindível que eles estejam devidamente protegidos, com máscara, óculos de proteção, luvas, sapatos apropriados e avental que cobre o corpo inteiro", orienta o técnico de educação do Centro de Tecnologia de Solda do Rio de Janeiro, Rafael Guimarães.

Profissão em alta e reconhecimento engatinhando. Só resta saber qual o melhor perfil que se encaixa na formação de um bom soldador, afinal, aquele trabalho braçal, exaustivo e cansativo pode resultar em boas oportunidades, tanto para os homens, quanto para as mulheres. "Treinar bastante e levar em consideração as demais questões de segurança. O importante é investir em mais qualificação para se atingir patamares superiores. E gostar do que faz, pois a profissão exige demais do estado físico da pessoa", conclui Rafael Guimarães, técnico de educação do Centro de Tecnologia de Solda do Rio de Janeiro.

Serviço

Escola Técnica Senai Cabo: 3521-0952
Centro de Tecnologia de Solda do Rio de Janeiro: (21) 3978-8713
"Não se prenda aos cursos daqui"

"Mestre das faíscas". É assim que Antônio Alves de Melo, 57 anos, se define após 25 anos atuando como soldador. A paixão pela arte da soldagem surgiu desde adolescente, e após conhecer o mundo da solda ele não queria mais outra coisa, a não ser se especializar e seguir carreira no ramo.

Tudo começou desde cedo, mais precisamente no ano de 1974, quando decidiu ingressar num curso de solda que o Senai de Areias oferecia na época. "Desde o módulo da teoria eu vi que era aquilo mesmo que iria investir". A arte de juntar duas peças para garantir a união eficiente através da solda virou um dos principais mandamentos da rotina de Antônio. "Fiz a primeira qualificação, continuei me aperfeiçoando e ingressei logo no mercado de trabalho. Passei quatro anos na empresa Noraço, trabalhando como soldador, depois parti para a indústria Piratininga, na qual passei mais nove anos na mesma profissão. Voltei para a Noraço e passei mais algum tempo até me afastar do cargo. Não me arrependo, nem tenho vergonha de assumir a minhaprofissão. Sou soldador com o maior orgulho", conta Antônio.

Ele já passou por diversos setores da solda, não parou de investir nas suas especializações e mais, não hesitou em aprender os diversos processos que a solda exige. Hoje, atua como diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco com a finalidade de lutar ainda mais pelo reconhecimento da profissão. "Os cursos do Senai me ajudaram bastante, mas é bom procurar novos horizontes, não se prender apenas aos cursos daqui", aconselha o profissional, que hoje ocupa o patamar de soldador 6G (o máximo da categoria).

Breve perfil:

* Curso de qualificação pela Petrobras
* Soldagem pelo Senai de Areias
* Curso técnico de soldagem pelo Senai de Areias
* Qualificação de soldagem pela Associação Brasileira de Soldagem
Muitas vagas, inúmeras exigências

Os empreendimentos instalados e a serem instalados no estado de Pernambuco, principalmente no Complexo de Suape, indicam que haverá um forte crescimento na demanda por profissionais de solda, afinal, há poucos soldadores com o nível de qualificação técnica exigido pelo mercado na região, o que indica uma ótima oportunidade para aqueles que desejarem ingressar na área. "Há um contingente que está sendo capacitado. Mas esse é um processo de médio prazo, tendo em vista que são necessários em torno de cinco anos para se formar um profissional com bom nível de qualificação", explica o diretor administrativo e de recursos humanos do Estaleiro Atlântico Sul, Gerson Beluci.

Para montar o quadro de 3.400 funcionários e construir o navio João Cândido o Estaleiro Atlântico Sul teve que instalar um centro de treinamento para formar e capacitar soldadores em Suape. Um deles é Fóstenes Bezerra. "Eu nunca imaginei que realizaria o sonho de soldar um grande navio em Pernambuco, e essa chance surgiu. Eu não fazia ideia de como era a solda em si e nem como se realizava a atividade. Hoje, a solda é a minha vida. Trabalho soldando a parte de cima do navio dia a dia e é como se isso fosse uma escultura", comenta o soldador que trabalha há dois anos no Estaleiro e acredita que uma carreira promissora lhe aguarda."Há uma grande procura por profissionais de solda nos diversos níveis de qualificação e experiência. A maioria das vagas de nossa área industrial é para soldadores e montadores", revela Gerson.

Para a indústria naval, o soldador é de grande importância, afinal, a construção de um navio ou de uma plataforma necessita de mão-de-obra intensiva, principalmente dos soldadores. Edileuza do Nascimento, 22 anos, acredita nessa importância. "Foi o meu primeiro emprego e tenho a maior satisfação de exercer ele. Apesar de ser uma profissão com mais colegas de trabalho homens, costumo dizer que o principal desafio é tentar melhorar a cada dia e mostrar a qualidade no meu trabalho, pois a solda é um trabalho bem minucioso e que requer bastante atenção", conta ela, que iniciou a carreira com apenas 18 anos.

"Soldador naval é diferente do soldador de uma montadora de automóveis. No Estaleiro Atlântico Sul um soldador pode ter uma sólida carreira, iniciando como soldador 1 e podendo chegar a cargos de liderança. Assim como em outras profissões, qualidade do trabalho, disciplina, continuidade na capacitação e habilidade para liderança são requisitos fundamentais para o crescimento", finaliza o diretor administrativo e de recursos do Estaleiro Atlântico Sul, Gerson Beluci.
Mestres da arte com faíscas
O Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco é um dos órgãos que lutam bravamente pelo reconhecimento da profissão dos mestres da arte com faíscas. Para isso, o presidente Alberto Alves, eletricista de profissão, decidiu encarar o mandato de quatro anos para investir nos bons frutos dos soldadores. "A profissão de soldador oferece um campo vasto de oportunidades, desde o setor naval, recentemente acordado no estado, até a prestação de serviços para grandes empresas como a Petrobras", explica o presidente. Diante deste novo mercado recém-apresentado para os soldadores, ele questiona e esclarece algumas questões importantes para os iniciantes no ramo. Veja a seguir:

Qual deve ser o perfil de quem deseja ingressar na carreira?

Pessoas com o segundo grau completo e o mais importante, gosto pelo o que se faz. Para trabalhar nessa área é preciso ter muita concentração e ser muito detalhista, duas exigências primordiais. Enquanto no passado a profissão se restringia ao sexo masculino, as mulheres já estão garantindo um lugar certo.

E como se encontra o atual mercado de trabalho?

Essa profissão teve um crescimento significativo em Pernambuco, principalmente no setor de bens de capital, naval e autopeças, e depois até mesmo com a própria metalúrgica. As refinarias representam outro setor bastante forte para o mercado e os jovens já estão com os olhos bem abertos para as demais oportunidades.

Qual a remuneração inicial?

Varia demais. Desde o setor ao ambiente de trabalho. Um soldador pode ganhar de R$ 800 a R$ 8 mil. Tudo vai depender da qualificação de cada profissional.

O que o senhor diria àqueles que se interessam pela profissão?

Que é um ramo bastante promissor eque só tende a crescer. Quanto mais você investe, mais chances de colocação no mercado de trabalho terá. Apesar de ser produtiva, tem um certo grau de dificuldade que engloba vários fatores, como desenvoltura, concentração, experiência e força de vontade.