Economia do estado em três tempos

O antes, o durante e o depois da economia pernambucana. Da perda de espaço na Região Nordeste - com o fechamento de indústrias e o abalo da autoestima local - ao fenômeno Suape e o registro de índices de crescimento dignos da China. Durante o seminário A Revolução Pernambucana na Economia, o diretor executivo do Banco Gerador, Paulo Dalla Nora, o diretor presidente da Ad-Diper, Jenner Guimarães, e o diretor TGI Consultoria, Francisco Cunha, traçaram um panorama das transformações do estado nos últimos 20 anos, destacaram o momento atual de recuperação e as perspectivas pra lá de otimistas para as próximas décadas.

A manhã da terça-feira foi movimentada no auditório dos Diários Associados. "Pernambuco está crescendo mais que o Brasil. Se o Brasil está crescendo mais que o mundo, então Pernambuco está crescendo mais que o mundo", brincou Francisco Cunha. "Quem poderia imaginar que um dia isso fosse acontecer", comentou o diretor da TGI. Guilherme Machado, diretor geral dos Diários Associados em Pernambuco, destacou a necessidade de aprender com as experiências do passado. "As exitosas e, até mesmo, as que não deram certo".

Machado também lembrou que é preciso interpretar corretamente o que está acontecendo no presente. "Desta forma, podemos planejar com mais segurança o futuro". Para Márcio Borba, presidente da Sociedade Pernambucana de Planejamento Empresarial (SPPE), que realizou o seminário em parceria com os Diários Associados, um dos méritos do evento é a formulação de um material especializado. Na próxima semana o Diario de Pernambuco circula com um caderno especial encartado sobre o tema.

Suape como indutor
Que bom que o Recife foi uma das primeiras cidades a ter uma torre para receber o Zeppelin. Mas isso foi há 80 anos. O passado dourado é bonito, mas deve ser deixado para trás. Assim como os tristes anos de estagnação pré-Suape. O complexo industrial portuário é considerado por Paulo Dalla Nora, diretor executivo do Banco Gerador, o indutor ideal econômico e psicológico para reposicionar o estado no mapa competitivo brasileiro. "As economias emergentes estão crescendo muito mais. O deslocamento fez com que abrisse uma oportunidade de comércio com nações não tradicionais".

Neste novo comércio, ter um porto é um ativo importante, lembra Dalla Nora. As trocas internacionais são puxadas, claro, pela China, que há 25 anos cresce perto dos dois dígitos. O executivo fez questão de ressaltar que, embora "parceira", é com a própria China que estamos competindo. E não adianta ter o porto, a indústria. Tem que ter competitividade. "Isso a gente só tem com mão de obra qualificada", reforçou. Felizmente, os números estãomudando. Hoje, 31% dos pernambucanos já têm mais de 9 anos de instrução. Em 1990, eram apenas 14%.
PIB de dois dígitos

Um estaleiro aqui, uma refinaria acolá. Fazem companhia duas indústrias de embutidos, centrais de distribuição, uma ferrovia, a transposição de um rio. E mais um monte de outras fábricas. Pernambucano transformou-se em um canteiro de obras. As novidades não param de surgir. Ninguém pode reclamar do presente. Só comemorar os bons ventos que não param de soprar. No primeiro trimestre de 2010, o PIB estadual cresceu 7,8%, segundo o levantamento do Condepe/Fidem.

"Algumas expectativas apontam para o fato de que Pernambuco deverá crescer na casa dos dois dígitos até 2011. Se não tivermos o receio de acreditar no crescimento da economia do estado, sem sombra de dúvidas, esses números serão ainda mais representativos", destacou o diretor presidente da Ad-Diper, Jenner Guimarães. Se Pernambuco fosse um país, teria o quarto maior crescimento do PIB em 2009. Mas para tudo deve haver planejamento. Por isso, ressaltou ele, há todo um esforço para interiorizar os investimentos no estado.

Futuro brilhante

O petroleiro João Cândido está boiando e recebendo os últimos retoques para ser entregue nos próximos meses pelo Estaleiro Atlântico Sul. Para o diretor da TGI Consultoria, Francisco Cunha, a figura do gigante de 274 metros de comprimento é a imagem visual de um novo Pernambuco. Um indicativo de como serão os próximos 20 anos. Muitos bons. A recuperação da indústria é fundamental para isso. "Não existe país no mundo que se desenvolva sem ela". Cunha acredita que, nos próximos dez anos, a participação da indústria no estado saltará de 20,6% para 26,4%.

Otimismo à parte, o consultor também enxerga os desafios e a necessidade de se desenvolver um conjunto de competências. A primeira é a pública, para fazer com que os recursos "não se enclausurem em Suape". Também é preciso ter competência empresarial para modernizar a gestão e enfrentar a concorrência. Além da competência profissional para atender ao aumento das exigências da prestação de serviços. "A pior coisa a fazer é menosprezar uma fraqueza, uma ameaça porque ela pode se transformar em um buraco negro". Fica o alerta.