Novo cenário de desenvolvimento '

Há cerca de 20 anos a economia de Pernambuco emitia sinais de estagnação. O Leão do Norte perdia espaço e importância regional. Em 2009, o estado teve o quarto maior crescimento do PIB no mundo, com 3,8% , apesar da crise financeira. No primeiro trimestre deste ano o PIB azul e branco aumentou 7,8% em relação ao mesmo período de 2009 e as projeções para os próximos anos são muito positivas. Toda essa mudança, levou os Diários Associados e a Sociedade Pernambucana de Planejamento Empresarial (SPPE) a convidar líderes empresariais e representantes do poder público para debater a nova agenda do desenvolvimento de Pernambuco. Com a realização do seminário A Revolução Pernambucana na Economia, foram analisados os períodos de 20 anos atrás, o momento atual e as expectativas para o futuro nos próximos 20 anos. E as projeções não são apenas especulações, são dados fundamentados em números reais da economia local.

O diretor-executivo do Banco Gerador, Paulo Dalla Nora, fez um resgate dos fatores que levaram a desaceleração da economia do estado no passado recente, que atingiu até a auto-estima do pernambucano. Mostrou como o Complexo Portuário de Suape se tornou indutor da retomada do crescimento que resgatou o orgulho e a esperança do povo pernambucano.

O diretor presidente da Ad-Diper, Jenner Guimarães, destacou o momento de oportunidades que o estado vive com um crescimento maior que o brasileiro e a preocupação do Governo de Pernambuco em assegurar que esse desenvolvimento chegue a todas as regiões do estado. E reconheceu que o grande desafio é levar infraestrutura e qualificação da mão de obra para todos.

As expectativas para os próximos 20 anos são pra lá de animadoras. E para o sócio da TGI Consultoria, Francisco Cunha, o Estaleiro Atlântico Sul é a imagem desse novo Pernambuco. Ele destacou que não existe país que se desenvolva sem a participação da indústria, que no estado saltará de 20,6% para 26,4%. Confira a cobertura completa do seminário que aconteceu no dia 22 de junho.

Entender o passado e planejar o futuro

Fatores macroeconômicos contribuem para a reestruturação do perfil econômico do estado

Entender o passado para aproveitar melhor as oportunidades do presente e planejar o futuro com mais segurança. Essa foi a proposta do seminário A Revolução Pernambucana na Economia, realizado numa parceria entre os Diários Associados e a Sociedade Pernambucana de Planejamento Empresarial (SPPE), no último dia 22.

E para aproveitar me-lhor essas oportunidades é preciso perceber esse cenário dentro de um contexto macroeconômico. Essa foi a compreensão do economista e diretor executivo do Banco Gerador, Paulo Dalla Nora, palestrante do evento que fez uma retrospectiva sobre os últimos 20 anos da economia do estado.

"Só temos competitividade com mão de obra qualificada. Nós não estamos competindo com o nosso passado. Estamos competindo com a China, que há 25 anos cresce em média 9% ao ano e as taxas de produtividade lá são assustadoras "
Paulo Dalla Nora - Banco Gerador

Para Dalla Nora o grande indutor do crescimento nesse período foi o Complexo Portuário de Suape, localizado em Ipojuca e fruto do esforço de vários governos. Um ativo não só para a economia, mas para a auto-estima do pernambucano. "O estado sentia o fato de não ser mais a 'locomotiva do Nordeste' e de ter perdido importância para outros estados da região, como Bahia e Ceará. A grande mudança foi entender o Porto de Suape como nosso diferencial competitivo para que Pernambuco voltasse a ter uma posição de liderança, alinhado com as mudanças que estavam ocorrendo no mundo", destacou o economista.

O palestrante lembrou ainda o posicionamento estratégico de Suape em relação a outros portos nacionais, aos principais aeroportos do Nordeste e ao PIB (Produto Interno Bruto) da região, se configurando numa verdadeira âncora para o desenvolvimento do estado. O cenário macroeconômico também apontava para o surgimento de mercados emergentes, com oportunidades de comércio com novos mercados. "Havia uma conjunção de fatores. Uma mudança internacional da transferência do poder do mundo para a Ásia e a necessidade de mais comércio internacional. O Brasil também se apresentando como país emergente e, para tudo isso, o porto é um ativo importantíssimo, porque significa dialogar com outros países", avaliou Dalla Nora.

Sobre o Brasil, o executivo destacou que num passado recente a taxa de juros do país era inconcebível, chagando em 1989 a 103.484% ao ano. Isso comprometia a oferta de crédito e, consequentemente, o crescimento do país. Mas que de 1994 para cá, com o controle da inflação, o PIB começou a se alinhar positivamente, a taxa de juros caiu e a oferta de crédito modificou o consumo no país. Com a queda da taxa de juros acontece uma explosão do crédito. Mesmo assim, o Brasil ainda tem um espaço para o crescimento muito grande, no entendimento do economista. Com a redução da taxa Selic houve uma expansão do crédito e entre os anos de 1999 e 2009 ele praticamente se multiplicou por dez. Isso fez com que o país crescesse mais e as pessoas consumissem mais.

"Nesse período o Brasil começa a se normalizar como país. O Plano Real tem um efeito expressivo e entramos numa fase de PIB positivo, a taxa de juros convergindo para patamares racionais. E você tendo um porto como Suape tudo isso começa a fazer sentido. Esse nosso crescimento não é uma coisa que caiu de pára-quedas, tem um sentido macroeconômico mundial e nacional, explicou".

Potencial de oportunidades para o estado
Desafio do governo é descentralizar os investimentos para todas as regiões

Se o passado é aprendizado, o presente é ação. Foi o que mostrou o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Ad-Diper), Jenner Guimarães, durante sua apresentação no seminário A Revolução Pernambucana na Economia, realizado em parceria entre os Diários Associados e a Sociedade Pernambucana de Planejamento Empresarial (SPPE), onde destacou o panorama atual da economia do estado. E o momento econômico não poderia ser melhor. Pernambuco teve um crescimento em 2009 maior que o do Brasil, que está sendo considerado a bola da vez entre os países emergentes.

Os números são tão animadores que se Pernambuco fosse um país, estaria entre os quatro melhores desempenho do PIBs (Produto Interno Bruto) no mundo em 2009, com 3,8%. Ficando atrás apenas da China (8,7%), da Índia (6,8%) e da Indonésia (4,5%). E a tendência de crescimento se mantém. Os dados revelam que no primeiro trimestre de 2010, o PIB estadual cresceu 7,8%, em relação ao mesmo período de 2009, acumulando um crescimento de 5,3% nos últimos 12 meses. "Pernambuco vive um momento ímpar na sua história. Algumas expectativas apontam que ele deverá crescer até 2011 na casa dos dois dígitos. Se não tivermos o receio de acreditar no crescimento da economia do estado, sem sombra de dúvidas, esse número será ainda mais representativo", acredita o diretor presidente da Ad-Diper, Jenner Guimarães.

"Pernambuco está preparado para esse novo momento. Suape não é obra de um único governo. Acho que a gente superou aquela fase em que projetos de governos anteriores não deveriam ter continuidade"
Jenner Guimarães - Ad-Diper

Segundo o gestor, esse otimismo é fruto da capacidade de consumo do estado e da região Nordeste, que teve um aumento do poder de compra em função de programas do governo federal como o Bolsa Família, que em 2009 injetou R$ 1,1 bilhão na economia. "O nosso grande diferencial diz respeito ao consumo, porque se a gente observar, os países que estão puxando esse crescimento são altamente populosos. No Brasil, particularmente, o Bolsa Família injetou - sobretudo de baixa renda - uma receita que não se tinha anteriormente. Eram pessoas que não tinham direito a um biscoito recheado ou a um eletrodoméstico mais sofisticado. Isso ajudou a aquecer a economia", explica Jenner Guimarães.

Dentre os estados com maior potencial de consumo Pernambuco está em segundo lugar na região, perdendo apenas para a Bahia. E os números do estado continuam positivos quando o assunto é geração de empregos. Segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisas Sociais Aplicadas), divulgado em março deste ano, Pernambuco abrirá 70,6 mil vagas de trabalho este ano, o que nos coloca na oitava posição nacional. Novamente, dentre os estados do Nordeste, ficando atrás apenas da Bahia, que gerará 83,1 mil novos postos.

O presidente da Agência de Desenvolvimento também destacou o investimento público que vem sendo feito no estado como indutor desse crescimento. "É importante destacar que no momento de dificuldade econômica os investimentos públicos não poderiam ser freados, sob pena do agravamento da crise. E o governo do estado continua acreditando e, a exemplo do governo federal, continuou injetando dinheiro. Isso fortalece o meio empresarial, pois Pernambuco manteve os investimentos em infraestrutura. Ela será determinante, no futuro, para que o estado se consolide como uma das economias mais importantes do país", avalia.

Segundo o diretor da Ad-Diper, Suape é considerada hoje pelo governo do estado como a 'joia da coroa'. "É através do porto que os investidores passam a olhar Pernambuco com outros olhos. Mas é preciso que a gente tenha cuidado em não replicar no estado a distorção que aconteceu na economia brasileira ao longo dos últimos anos, com a concentração dos investimentos numa só região. Se a gente não o induzir os investimentos a irem para o interior, a gente poderá ter uma grande concentração dos investimentos na Região Metropolitana do Recife".

Para atrair esses investimentos para outras regiões o Prodepe (Programa de Desenvolvimento de Pernambuco) modificou a política de incentivos fiscais do estado, de acordo com a localização do empreendimento. Com isso o incentivo passou de 75% de crédito presumido do ICMS em todo o território para 75% na Região Metropolitana, 85% na Zona da Mata, 90% no Agreste e 95% no Sertão, concedido por 12 anos e renovável por igual período.

"Essa modificação foi feita ainda no início do governo, para que os incentivos fiscais fossem diferenciados em função da região onde os empreendimentos poderão se localizar. Se a gente não fizer um trabalho no restante do estado, não levaremos os investimentos industriais fora dos muros de Suape".

Os investimentos entre 2007 e 2009 que não se instalaram necessariamente fora de Suape, mas que requereram os benefícios do Prodepe tiveram um crescimento significativo na quantidade de indústrias. "Foram 226 empreendimentos industriais com projetos aprovados até 2009. Fora o que já foi concedido no primeiro semestre de 2010. Esses investimentos no interior mostram que estamos no caminho certo. Foram gerados mais de 28 mil empregos, com destaque para a indústria de alimentos, eletro-metalmecânica e têxtil", comemora o presidente ", esclarece Jenner Guimarães.

Investimentos públicos em Suape

Entre 1995 e 1998: R$ 155 milhões
Entre 1999 e 2002: R$ 136,1 milhões
Entre 2003 e 2006: 147,6 milhões
Entre 2007 e 2010: R$ 1,4 bilhão

Evolução por período

Empresas instaladas em Suape até 2006: 81 empreendimentos
Soma desses investimentos: US$ 2,2 bilhões

Empregos em Suape

Empregos diretos gerados por período:
Até 2006: 6,6 mil - Até dezembro de 2009: 15 mil
10 mil vagas diretas e 150 mil indiretas
Mão de obra no pico das obras: 30 mil pessoas

Fonte: Ad-Diper

Dez novos polos industriais
Outro fator que contribui para o momento de expansão é o planejamento. O governo dividiu o estado em 12 regiões e foram levantadas as potencialidades desses locais e as suas respectivas prioridades. Essas ações foram debatidas pelo governador e seus secretários nas próprias regiões para que o orçamento de cada projeto fosse definido e ancorado pela Secretaria de Planejamento. Cada etapa do processo é monitorada pelo próprio governador e o descumprimento de uma única fase é suficiente para que se identifique qual foi o "gargalo" para que o trabalho planejado efetivamente aconteça.

Para se garantir a competitividade na atração de novos empreendimentos o governo vem investindo maciçamente em infraestrutura. "Sem água, sem energia, sem estradas, sem uma logística adequada e sem uma mão de obra qualificada, dificilmente a gente conseguiria trazer qualquer empresa para se instalar em território pernambucano", ressalta Guimarães.

Para se ter idéia da preocupação com a descentralização do desenvolvimento, Pernambuco tinha 10 distritos industriais. Desses apenas três localizados fora da RMR. Sendo um em Garanhuns, outro em Araripina e um terceiro em Petrolina. "Estamos num trabalho intenso para implantar mais 10 distritos industriais. Desses apenas dois serão na RMR, que é um em São Lourenço da Mata e outro em Moreno. Os demais serão todos no interior do estado. Procuramos identificar empresas com vocação para o interior. Setores como o calçadista, têxtil/confecções e madeireiro no Brasil estão em cidades do interior. E temos trabalhado nesse sentido, porque além de tudo, são setores intensivos de contratação de mão de obra. Evitando que os filhos dessas cidades tenham que se deslocar até a região metropolitana em busca de trabalho", esclarece o gestor.

O estado também vem investindo no sentido de fortalecer a educação, principalmente no nível técnico. As escolas técnicas que estão sendo abertas também estão priorizando o interior. E são exigidos que os projetos que chegam ao Prodepe especifiquem melhor o tipo de mãode obra que o investimento vai requerer, detalhando a formação técnica. Com base nessas informações os cursos oferecidos são direcionados para atender a nova demanda. Para que as carreiras e arranjos produtivos locais se insiram na cadeia produtiva desses grandes empreendimentos.

"Pernambuco está preparado para esse novo momento. Suape não é obra de um único governo. Acho que a gente superou aquela fase em projetos de governos anteriores não deveriam ter continuidade. E isso era uma coisa que precisava mudar na cultura do pernambucano. O que é bom tem que ter continuidade e o que é bom ainda pode ser melhorado", enfatiza Jenner Guimarães.